110 Histórias, 110 Objectos. O “HP velhinho”
No 75.º episódio do podcast, ouvimos as memórias do “HP velhinho”. O 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. Siga-o nas plataformas
No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No 75.º episódio do podcast, ouvimos as memórias do “HP velhinho”.
Falar num minicomputador, no início dos anos 1970, remete-nos para as dimensões de um pequeno minibar de hotel. É o rigor de uma escala que, antes de evoluir até aos dias de hoje em que poderosas máquinas nos cabem no bolso, encontrava no modelo de computador HP 2116C um importante marco. No IST, o modelo chegou em 1971 e marcou uma pequena revolução na forma como estudantes da escola se relacionavam com a tecnologia e a programação, antes de se transformar no “HP velhinho”.
Luís Borges de Almeida, professor aposentado do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC) do IST, faz-nos uma descrição detalhada desta emblemática máquina: “Era um armário rectangular, mais ou menos do tamanho de um pequeno frigorífico, como os dos minibares dos hotéis, um bocadinho mais alto”. Especificações: “A memória era de 16 Kilobyes (KB), um milhão de vezes menos do que os Gigabytes (GB) de que nós normalmente falamos agora”. Preço: “Deve ter custado cerca de 14 mil dólares na altura, em valores actuais seria 280 mil dólares (cerca 265 mil euros)”. Balanço: “Imensamente usado, serviu para muitas coisas”.
Luís Borges de Almeida foi nomeado, ainda como estudante, no mesmo ano, “tratador do computador”, ficando com as responsabilidades de “assegurar que estava a trabalhar bem, aprender a trabalhar bem com ele, ensinar as pessoas e ajudá-las quando era preciso”. Este minicomputador (pequeno sobretudo quando comparado com o IBM360 – ouvir episódio 46) era usado por todos os membros do Centro de Estudos de Electrónica, que ficava no último piso do Pavilhão de Electricidade.
Uma das “muitas coisas” que possibilitou foi o primeiro contacto a sério de alguns estudantes com computadores de verdade. Uma delas foi Isabel Trancoso, professora catedrática aposentada do DEEC do IST e investigadora no INESC-ID: “Aqui no Técnico, o contacto que tinha era com um IBM que estava numa sala sei lá bem onde. Púnhamos uma caixa de cartões perfurados no chamado galinheiro - uma caixa com buraquinhos. Isso não era um contacto físico com um computador. Ele estava algures, eu nem sabia bem onde é que ele estava”, recorda. “Este foi o meu primeiro contacto com computadores a sério, no qual mexi mesmo. Foi uma aprendizagem grande”, complementa.
Outro estudante na altura, actualmente professor no DEEC, Fernando Mira da Silva, recorda quando teve pela primeira vez o “velhinho” à sua frente: “Pela primeira vez podia fazer aquilo que hoje é normal: interagir com um computador e ver imediatamente a resposta”. “Trabalhar directamente com um computador era uma coisa que estava ao alcance de um conjunto muito pequeno de pessoas. Senti-me privilegiado por ter acesso a essa ferramenta”, acrescenta.
Os programas corriam no HP 2116C com a ajuda de uma fita de papel perfurada. Não havia terminais com ecrã, mas sim uma tela impressora, com um cilindro que batia no papel com uma fita. É, ainda assim, uma evolução da tecnologia de cartões perfurados, utilizada pelos gigantescos modelos de computador anteriores. Nessa altura, toda a programação se fazia através de cartões perfurados. Nós não interagíamos com um computador. Nós perfurávamos cartões e entregávamos num cacifo. Quando as coisas corriam bem, recebíamos uma listagem com os resultados”, recorda Fernando Mira da Silva.
A sala onde se encontrava o “HP velhinho” – que parecia um aquário com vidros a toda a volta - tornou-se uma espécie de santuário. “Era uma sala que parecia uma capela, só se entrava lá para trabalhar”, recorda. Mas havia excepções, como numa brincadeira de Carnaval, recordada por Isabel Trancoso: “Punha-se o computador a funcionar em Special Intelligence State e o computador dizia que não era preciso dar comandos porque já tinha percebido o que é que queríamos fazer. As pessoas entravam em pânico. E os outros ficavam todos a ver a reacção da pessoa através dos vidros”.
O reinado deste computador no IST durou cerca de dez anos, até 1980/81, data em que foi adquirido um HP1000, uma máquina muito mais potente, com uma memória muito maior e muito mais rápido. Foi assim que nasceu a alcunha para o HP 2116C: o “HP velhinho”. Na tecnologia, as escalas e o tempo evoluem vertiginosamente.
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.
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