Novos governantes já tomaram posse. Pedro Nuno despediu-se: “Agora dêem-me descanso”
Presidente da República deu posse ao final da tarde desta quarta-feira aos novos membros do executivo chefiado por António Costa.
Os dois novos ministros, João Galamba e Marina Gonçalves, e os novos seis secretários de Estado tomaram posse esta quarta-feira, no Palácio de Belém, concluindo assim a remodelação governamental desencadeada pelas demissões do ministro das Infra-estruturas Pedro Nuno Santos e da secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis. A reorganização no Governo liderado por António Costa terá vigilância apertada por parte do Presidente da República. À saída do Palácio de Belém, Pedro Nuno Santos disse aos jornalistas: “Agora dêem-me descanso. Foram sete anos, foram bons sete anos, agora vou ter o meu descanso.” O ex-ministro afirmou ainda estar disponível para prestar esclarecimentos sobre o caso de Alexandra Reis, que gerou a crise política das últimas semanas.
João Galamba (no Ministério das Infra-estruturas) e Marina Gonçalves (no Ministério da Habitação) substituem Pedro Nuno Santos, que se demitiu há uma semana para “assumir a responsabilidade política” sobre o caso da indemnização de 500 mil euros paga pela TAP à ex-secretária de Estado Alexandra Reis por ter saído da gestão da companhia aérea. Na cerimónia de posse, o ministro que agora deixa o Governo abraçou de forma calorosa João Galamba, de quem é próximo, bem como Marina Gonçalves, que foi sua chefe de gabinete e secretária de Estado no Ministério das Infra-estruturas. Houve sorrisos e apertos de mão vigorosos tanto por parte de Marcelo Rebelo de Sousa como de António Costa a Pedro Nuno Santos.
No final, Pedro Nuno Santos saiu da sala dos embaixadores ao lado dos ministros Fernando Medina e Duarte Cordeiro, tendo ficado no exterior do Palácio de Belém alguns minutos a conversar, a sós, com o titular da pasta das Finanças. Fernando Medina é o outro ministro que tem estado debaixo de fogo por ter convidado Alexandra Reis para a sua equipa ministerial, mas que o primeiro-ministro segurou no Governo.
Foram ainda empossados pelo Presidente da República os secretários de Estado Pedro Sousa Rodrigues, que substitui Alexandra Reis no Tesouro, Ana Fontoura Gouveia, na Energia e Clima, Hugo Pires, no Ambiente, Frederico Francisco, nas Infra-estruturas, Fernanda Rodrigues, na Habitação, e Carla Alves, na Agricultura.
Recado para o Governo e oposição
Perante mais uma remodelação governamental em nove meses, o Presidente da República já tinha deixado um aviso na véspera. Admitiu que o critério do primeiro-ministro foi reorganizar com a “prata da casa para não mexer naquilo que existia” e colocou o ónus da opção em António Costa. À chegada a Lisboa esta terça-feira, vindo do Brasil, Marcelo Rebelo de Sousa deixou a ideia de que estará atento ao funcionamento do Governo agora remodelado e cuja orgânica foi também alterada com a divisão do ministério das Infra-estruturas e Habitação em dois.
“Vamos ver. Se isso funcionar é boa ideia. Se não, retiraremos daí as conclusões”, apontou o Presidente.
Aliás, quase desde o início da crise política, desencadeada com a notícia da atribuição da indemnização a Alexandra Reis, que o chefe de Estado fez questão de sublinhar a necessidade de esclarecimentos sobre o caso, abrindo a porta à demissão da governante.
Depois do anúncio da saída de Pedro Nuno Santos, e de partida para o Brasil, onde assistiu à tomada de posse do Presidente Lula da Silva, Marcelo respondia com um rotundo ‘não’ à reivindicação de parte da direita (Chega, IL e CDS) para dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas. Nessa altura, deixou dois recados: um para o Governo e outro para a oposição.
Se por um lado desafiou o executivo a governar, por outro transmitiu a ideia de que, com legislativas agora, "não é claro" o aparecimento de uma “alternativa evidente e forte” ao PS. Um dos motes da liderança de Luís Montenegro no PSD é o da construção de uma “alternativa”, mas a avaliar pelas palavras do Presidente isso ainda não se concretizou.
Já no Brasil, e depois de ter sido anunciada a remodelação no Governo, Marcelo deixou transparecer, de novo, o tom de aviso: a autonomização da Habitação num ministério é “abertura de um caminho” sobre um "problema social grave", acrescentando esperar que tenha “consequência”.