Remodelação de Costa aumentou “risco”. Falta “pacificação” no PS e mexer na PCM

Politólogos criticam escolha dos novos ministros e remodelação mínima do Governo, notando que a pressão é agora “maior”. E defendem mexidas no Ministério da Presidência do Conselho de Ministros.

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Sucessão de demissões e caso TAP abalaram a posição dos ministros das Finanças e da Presidência do Conselho de Ministros Nuno Ferreira Santos

A pressão para uma remodelação alargada do Governo já se fazia sentir por parte da oposição, que, depois da demissão de Pedro Nuno Santos no seguimento do caso TAP, questionou a continuidade de Fernando Medina no Ministério das Finanças. No domingo, foi reforçada pela mensagem de Ano Novo de Marcelo Rebelo de Sousa, que voltou a pedir estabilidade, colocando no executivo a responsabilidade de a manter. Mas, sacudindo os avisos da oposição e do Presidente, o primeiro-ministro respondeu nesta segunda-feira com uma remodelação cirúrgica que se limitou ao Ministério das Infra-Estruturas e à criação do Ministério da Habitação. Agora o "risco" é maior, avisam os politólogos.

Para o professor universitário de Lisboa e da Beira Interior Pedro Silveira, o chefe de Estado veio colocar uma "pressão adicional" em António Costa que “obrigou o primeiro-ministro a responder”, isto é, a “dizer ao Presidente e ao país o que vai fazer para regenerar a confiança”. O líder do executivo respondeu ao repto, mas ficou aquém do "golpe de asa" necessário na declaração que prestou nesta segunda-feira, estando agora "em cima do arame", defende.

"É muito difícil ter a confiança de que o primeiro-ministro fez o que era necessário para resolver os problemas estruturais e dar um novo élan ao Governo", aponta o politólogo, considerando que era "inevitável” que António Costa fizesse uma remodelação maior para “ganhar algum fôlego”.

Esta era a “oportunidade” para o líder do Governo “tentar perceber que ministros e secretários de Estado estão em sub-rendimento” e fazer “alterações à coordenação política que claramente está a falhar”, nota. Designadamente na tutela que é responsável por essa coordenação: o ministério de Mariana Vieira da Silva. “Não substituir a ministra da Presidência [do Conselho de Ministros, PCM] é não fazer muito", diz o professor de Ciência Política, acrescentando que, sem um reforço dos secretários de Estado desta tutela, "é quase um acto de fé” acreditar que a situação vai normalizar.

Agora, sustenta que o Governo enfrenta "um grande risco" com "esta atitude de desvalorização dos casos" do primeiro-ministro: "Se voltarem a acontecer, será muito difícil gerir politicamente uma nova situação."

Mais do que uma remodelação, porém, o autor da obra Governo de Portugal considera que faltou uma garantia por parte de António Costa de que fará um escrutínio prévio aos governantes e de “que o Governo será mais coordenado”.

Também o cientista político André Azevedo Alves considera que António Costa saiu "fragilizado", não só pelas várias defesas que fez de Fernando Medina quando o caso TAP "não está totalmente esclarecido", como por ter nomeado João Galamba para ministro das Infra-Estruturas e Marina Gonçalves para ministra da Habitação, duas pessoas que considera serem "apostas de maior risco".

"Daqui para a frente, o que correr mal vai ser apontado como responsabilidade das escolhas de António Costa", diz, considerando que a nomeação dos ex-secretários de Estado, que apelida de "solução de recurso", expôs o primeiro-ministro às "dificuldades de recrutamento" do Governo e à necessidade de "manter os equilíbrios internos do PS".

Depois da "magnitude da saída de Pedro Nuno Santos", eram necessários governantes com "credenciais e currículos mais sólidos", defende. Para aí aponta também Pedro Silveira, ao referir que os novos ministros deveriam ter uma "legitimidade" técnica "muito forte", além de serem "conhecidos pelas pessoas".

Perante este cenário, o professor da Universidade Católica alerta para que o primeiro-ministro terá agora o "grande desafio de garantir a pacificação" dentro de um PS que parece, até na "segunda linha de Costa" (isto é, a ministra da Presidência), mais centrado em "pensar na sucessão" do que "na governação", sob pena de o Presidente fazer a leitura de que "a situação é insustentável".

Recorde-se que o próprio Presidente da República assumiu nesta terça-feira que retirará "conclusões" caso a estratégia de António Costa de "mexer o menos possível" na orgânica do Governo não "funcionar".

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