Da infância na Baviera à cátedra de S. Pedro: as datas do pontificado de Bento XVI
Filho de um comissário de polícia e de uma cozinheira, Joseph Ratzinger viveu 78 anos antes de ser eleito o 265º Papa, sucedendo a João Paulo II. Eis alguns dos momentos mais marcantes da sua vida.
O Papa Emérito Bento XVI, que morreu este sábado aos 95 anos, teve um pontificado conturbado de quase oito anos, desde que foi eleito em 19 de Abril de 2005 até 28 de Fevereiro de 2013, quando resignou ao cargo.
1927
Joseph Aloïs Ratzinger nasce no dia 16 de Abril de 1927, em Marktl am Inn, na Baviera (Alemanha), perto da fronteira com a Áustria. É o mais novo dos três filhos de um comissário de polícia, proveniente de uma família de agricultores, e de uma cozinheira, descendente de artesãos. Os pais são profundamente religiosos. Depois de uma infância idílica, e em parte dedicada à aprendizagem do piano, Ratzinger seria obrigado a alistar-se na juventude nazi e, mais tarde, foi arrolado nos serviços auxiliares anti-aéreos do regime.
1945
Tendo desertado do exército alemão pouco antes do fim da II Guerra Mundial (1939-45), é ainda assim feito prisioneiro de guerra, após a vitória dos Aliados. Durante as semanas de reclusão no campo de prisioneiros, dedicou-se à “composição de hexâmetros gregos”, segundo o próprio. Libertado, volta para a Escola Superior de Filosofia e Teologia de Frising, na Universidade de Munique, onde estudou filosofia e teologia.
1951
É ordenado sacerdote no dia 29 de Junho de 1961, juntamente com o seu irmão Georg. Dois anos depois, doutorou-se em teologia com a tese “Povo e Casa de Deus na doutrina de Santo Agostinho”.
1962-65
Participa no Concílio Vaticano II como “perito”, depois de ter chegado a Roma como consultor teológico do cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colónia.
1977
O Papa Paulo VI nomeia-o arcebispo de Munique e Frising, no dia 25 de Março de 1977. No dia 28 de Maio seguinte, recebe a sagração episcopal e escolheu como lema episcopal “Colaborador da Verdade”. Em Junho, o mesmo papa nomeia-o cardeal.
1978
Participa no conclave, celebrado nos dias 25 e 26 de Agosto, que elegeu João Paulo I. Em Outubro desse mesmo ano, dada a morte de Albino Luciani, participa do conclave que elegeu o polaco Karol Wojtyla, futuro João Paulo II.
1981
No dia 25 de Novembro, é nomeado prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que acumula com a presidência da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional. Renuncia então ao governo pastoral da Arquidiocese de Munique.
1998
É nomeado vice-decano do Colégio Cardinalício, do qual se tornaria decano quatro anos depois.
2005
No dia 19 de Abril é eleito o 265º Papa, sucedendo a João Paulo II.
Em Novembro, declara que “a Igreja não pode admitir no seminário e nas ordens sagradas aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente arreigadas ou apoiem a chamada cultura gay.
No dia 25 de Dezembro, publica a encíclica “Deus caritas est”, sobre a essência do Cristianismo.
2006
Um ano depois de se ter tornado Papa cita, numa visita à Alemanha, um imperador de Bizâncio do século XIV que dissera que o islão só tinha trazido mal ao mundo e que se tinha imposto pela força da espada. O mundo muçulmano ferveu de indignação, o que obrigou, uns dias depois, a clarificar que não tivera intenção de insultar o islão e, mais tarde, a visitar a Turquia
A 30 de Novembro, o Papa encontra-se com muçulmanos durante uma visita à Turquia, assumindo uma atitude de oração frente à Mesquita Azul de Istambul.
2007
No dia 9 de Maio, durante a viagem de avião para São Paulo, no Brasil, apoia a ameaça do episcopado mexicano de excomungar os políticos que defendessem o direito ao aborto. Dias depois, o chefe da sala de imprensa do Vaticano, Frederico Lombardi, esclareceu que o Papa não defendeu a excomunhão oficial de todos os políticos que votam a favor das leis abortivas, tendo-se limitado a explicitar que a excomunhão está prevista no Código de Direito Canónico.
Publica, no dia 30 de Novembro, a encíclica “Spe salvi”, dedicada ao tema da esperança cristã, num mundo que considera “dominado pela descrença e pela desconfiança”
2008
A 19 de Julho, Bento XVI adopta uma atitude de defesa das vítimas de abuso sexual por parte do clero, ao emitir um pedido de desculpas histórico, durante uma visita à Austrália, em que se encontrou com quatro vítimas. Em Abril, o Papa já se encontrara com vítimas de abuso sexual durante uma visita aos EUA.
2009
A 24 de Janeiro, Bento XVI levanta a excomunhão a bispos tradicionalistas radicais, incluindo Richard Williamson, que alegaram nunca terem existido câmaras de gás nazis e que os nazis mataram mais de 300.000 judeus — e não seis milhões. Críticas de grupos judeus, da chanceler alemã, Angela Merkel, e de forças no interior da própria Igreja, levaram o Vaticano a exigir que Williamson, "inequivocamente e publicamente", mudasse os seus pontos de vista antes de poder ser completamente readmitido no seio da Igreja Católica.
No dia 17 de Março, a bordo do avião que transporta do Vaticano aos Camarões, reacende a polémica em torno da posição da Igreja em relação ao uso do preservativo, ao afirmar que a solução para o problema da Sida não passa pela distribuição de preservativos. “Pelo contrário, a sua utilização agrava o problema", sustentou, a caminho de um continente gravemente atingido pela doença. Mais tarde, ao voltar ao assunto num livro de entrevistas com Peter Seewald, publicado em 2010, admitiria o uso do preservativo “num ou noutro caso”, como, por exemplo, o de um prostituto. Mas reitera que a única forma de travar o mal causado pela infecção por VIH é a moralização da sexualidade.
A 15 de Maio, conclui uma visita à Terra Santa, durante a qual visita Israel, Jordânia e os territórios palestinianos, apelando para uma solução de dois Estados, para pôr fim às guerras no Médio Oriente e ao "terrorismo", apelidando ainda o holocausto de "extermínio brutal".
No dia 29 de Junho, publica a terceira encíclica “Caritas in Veritate”, onde propõe uma nova ordem política e financeira internacional, para governar a globalização e superar a crise em que o mundo se encontra mergulhado.
2010
É publicado o livro-entrevista Luz do Mundo, resultante de uma conversa com o jornalista alemão Peter Seewald que permitiu dar a conhecer o pensamento de Bento XVI sobre temas centrais para a Igreja e a sociedade.
A 20 de Março, Bento XVI escreve uma carta pastoral dirigida aos católicos irlandeses, expressando "vergonha" e "remorso" pela pedofilia de padres na Igreja Irlandesa. À crise da Igreja Católica na Irlanda, que surgiu em Novembro de 2009, seguiu-se uma avalancha de escândalos similares na Europa e nos Estados Unidos da América.
Entre 11 a 13 de Maio, visita Portugal, no 10.º aniversário da beatificação de Jacinta e Francisco, pastorinhos de Fátima. Bento XVI passa por Lisboa, Fátima e Porto. Ainda no avião papal que o transportou para Lisboa, e referindo-se aos escândalos de pedofilia envolvendo membros do clero, disse que "a maior perseguição à Igreja" não vem de "inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja".
2011
A 1 de Maio, Bento XVI reconhece o estatuto de "beato" ao seu antecessor, João Paulo II, em frente a um milhão de pessoas, numa cerimónia que colocou o último Papa a um passo da santidade.
A 18 de Maio, o Papa apela aos católicos do mundo para rezarem para que os bispos chineses recusem separar-se de Roma, na sequência de "pressões" das autoridades da China.
2012
A 15 de Setembro, durante uma visita ao Líbano, o Papa insta cristãos e muçulmanos a criarem uma sociedade harmoniosa e pluralista, em que a dignidade de cada pessoa seja respeitada e o direito de viver a religião em paz seja garantido.
No dia 12 de Dezembro, publica a sua primeira mensagem no Twitter. A conta –@pontifex, com tradução em nove línguas, somou, nas primeiras 24 horas, 500 mil seguidores.
Em Janeiro, um jornalista italiano publica cartas em que o então administrador das finanças do Vaticano, Carlo Maria Viganò, implorava a Bento XVI para não ser afastado por ter exposto uma suposta rede de corrupção no Vaticano. Nos meses seguintes, foram divulgados vários documentos secretos que expunham o Vaticano como um ninho de intrigas, corrupção e lutas pelo poder, bem como a existência de um suposto lobby gay. Na origem desta fuga de documentos, que ficaria carimbada como Vatileaks, estava Paolo Gabriele, o mordomo pessoal de Bento XVI que cumpriu pena de prisão, até Bento XVI o ter perdoado, nas vésperas do Natal, a 22 de Dezembro.
2013
No dia 11 de Fevereiro, Dia Mundial do Doente, anuncia a renúncia ao pontificado, aos 85 anos de idade. A decisão, inédita em quase 600 anos de história da Igreja Católica, produz efeitos a partir do dia 28 de Fevereiro.
A 28 de Fevereiro, Bento XVI despede-se dos fiéis na varanda da residência papal de Castel Gandolfo, afirmando que "deixará de ser Papa, mas será um peregrino". com Lusa