A Visible quer seguir o rasto que deixamos online
Um antigo especialista de privacidade do Governo do Reino Unido está a criar uma app que segue o rasto dos dados que as pessoas deixam online para mostrar o que a Internet sabe sobre elas.
Aquilo que as pessoas escrevem, as páginas que visitam e os produtos que compram, pintam uma imagem da forma como são vistas online. Esta informação é usada por empresas que querem vender produtos, recrutadores (digitais ou humanos) e criminosos que procuram alvos vulneráveis para tácticas de phishing e outros crimes. A Visible quer mudar o paradigma com uma app móvel que segue o rasto digital dos utilizadores e os alerta sobre a percepção que passam.
O projecto, que depende de algoritmos de inteligência artificial, é liderado por Ben Graville, antigo conselheiro de segurança do Governo do Reino Unido que deixou o cargo em 2021 e criou a Visible.
“Tenho estado nesta área há muito tempo. A imagem que as pessoas deixam online é cada vez mais importante para encontrar um emprego ou para criar relações”, explica ao PÚBLICO Graville que vê a Visible como “uma forma de as pessoas se verem em dados”.
A ferramenta, que entra na fase de testes em 2023, tem procura. Segundo dados da edição de 2022 do estudo Confiança na Internet do instituto Ipsos, que se baseia nas respostas de 14.519 internautas, quatro em cada cinco pessoas em todo o mundo preocupam-se com a privacidade online. Cerca de 61% dos inquiridos acreditam que a situação melhora com formas de conhecer e controlar os dados que são partilhados.
Ainda não existem muitos detalhes sobre o funcionamento da Visible, mas, na base, o sistema recolhe dados sobre a forma como o utilizador usa a Internet (data scraping) que são posteriormente analisados por algoritmos treinados em diferentes áreas. O conteúdo recolhido inclui as páginas vistas, o tempo que se passa em cada site, a dimensão das mensagens, a linguagem utilizada e as pessoas com quem mais se fala online.
Graville salienta que a app não vai guardar quaisquer tipos de dados porque o processamento é feito no próprio dispositivo. O pagamento de uma subscrição mensal está na base do modelo de negócio da aplicação. “Não ganhamos nada em guardar dados”, justifica o líder da Visible. "Por isso, usamos uma abordagem federada da inteligência artificial. Não enviamos nada para servidores online."
A aprendizagem federada é uma abordagem criada para treinar modelos de inteligência artificial através de múltiplos dispositivos que colaboram entre si a partir de dados, analisados localmente, que nunca são enviados para servidores centrais. A Google introduziu o conceito em 2016 e está a tentar usar a tecnologia para barrar cookies de terceiros sem acabar com a publicidade personalizada online.
Embora a Visible ainda não tenha data prevista de lançamento, há várias outras apps que já ajudam os utilizadores a controlar aquilo que partilham online. É o caso da Mine, um sistema criado em Tel Aviv que usa algoritmos para identificar empresas que armazenam dados através do cabeçalho de emails. A ferramenta pode ser utilizada para submeter, automaticamente, pedidos de remoção de dados. Outro exemplo é a Privacy Bee, um serviço de remoção de dados que ajuda as pessoas a limpar a pegada digital, ao procurar e apagar informação em mais de 200 corretoras de dados globais.
De acordo com estimativas da analista de mercado Acumen, o mercado de ferramentas de gestão de privacidade deverá atingir os 35 mil milhões de dólares até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta de 40,2%.