Morreu o arquitecto japonês e prémio Pritzker Arata Isozaki
Chamavam-lhe “o imperador da arquitectura japonesa” e recebeu o Pritzker em 2019 — “É como uma coroa na lápide funerária”, notou na altura dada a sua idade avançada. Morreu aos 91 anos.
O arquitecto japonês Arata Isozaki, que foi distinguido com o Prémio Pritzker em 2019 e assinou o pavilhão Palau Saint Jordi, em Barcelona, a sala de concertos móvel Ark Nova (com Anish Kapoor, no Japão) ou o edifício Il Dritto, em Milão, morreu esta quinta-feira aos 91 anos. Cresceu nas ruínas da bomba nuclear de Hiroxima, confrontado e depois inspirado pelo solo arrasado que o rodeava. Décadas depois, tornou-se "uma grande figura da arquitectura contemporânea”, como dizia ao PÚBLICO o crítico de arquitectura Jorge Figueira em 2019. A notícia da sua morte foi confirmada pelo jornal espanhol La Vanguardia junto do atelier do arquitecto, secundado pelo El País e a agência de notícias EFE.
Arata Isozaki dizia que foi o vazio que lhe deu a primeira experiência da arquitectura. Nascido em 1931 na região de Oita, na ilha japonesa de Kyushu, descreveu ao diário britânico Guardian como crescer perto de Hiroxima, onde os EUA lançaram a primeira bomba nuclear no seu ataque ao Japão durante a II Guerra Mundial, em 1945, foi crescer “no ground zero. [Tudo] estava em ruínas e não havia arquitectura, nem edifícios, nem sequer uma cidade. Só barracas e abrigos me rodeavam. Por isso, a minha primeira experiência de arquitectura foi o vazio, e comecei a questionar-me como é que as pessoas podiam reconstruir as suas casas e cidades”. Foi na reconstrução do Japão após a guerra que se começou a destacar como arquitecto, tendo fundado o seu atelier, Arata Isozaki & Associates, em 1963.
Dono de um estilo multifacetado e flexível, evoluindo com as décadas e com os projectos ou colaborações, considerou que o Pritzker, o mais importante prémio de arquitectura do mundo, chegou... tarde. “É como uma coroa na lápide funerária”, disse ao diário norte-americano New York Times quando soube da distinção. A sua influência terá sido mais visível entre os anos 1960 e as décadas de 1980 e 90, como assinalava Jorge Figueira em 2019, tendo outras instituições sido mais atempadas no reconhecimento do seu trabalho — a medalha de ouro do Royal Institute of British Architects (RIBA) foi-lhe atribuída em 1986, o Leão de Ouro da Bienal de Veneza em 1996 e a Ordem das Artes e das Letras francesa foi-lhe entregue em 1997.
Nas suas décadas-chave, integrou-se tanto no movimento metabolista japonês, quanto no pós-modernismo. Exemplos de ambas as fases: a Biblioteca Municipal de Oita, a sua cidade natal (1962-66), o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (1981-1986, a sua primeira encomenda fora do Japão). Tem mais de cem obras construídas por todo o mundo — o júri do Pritzker assinalava precisamente que "se tornou no primeiro arquitecto japonês a forjar uma relação profunda e duradoura entre Ocidente e Oriente”.
Discípulo de Kenzo Tange, formou-se em Engenharia e Arquitectura, sendo conhecido também pelo seu forte e constante interesse pela história da arquitectura. É autor do Palau Saint Jordi, o maior pavilhão multiusos de Espanha, inaugurado em 1990 quando o país recebeu os Jogos Olímpicos, mas também de obras bem recentes como a sala insuflável Ark Nova, criada para servir as zonas do Japão afectadas pelo tsunami de 2011, ou Torre Allianz, um arranha-céus para Milão que, como os edifícios emblemáticos, já tem alcunha desde que foi inaugurado em 2018 — Il Dritto, evocando a linha recta e esguia do seu perfil. O seu projecto preferido era o museu Domus — Casa del Hombre (1995), na Corunha, em Espanha, onde acabou por construir bastante (tem sete projectos de destaque no país vizinho).
Passou pelo Porto em 2003, para inaugurar a exposição Electric Labyrinth, no Museu de Serralves, um olhar de projecto sobre uma cidade do futuro a partir da destruição de Hiroxima e Nagasáqui pelas bombas atómicas.