Há brigadas a salvar plantas orfãs nas ruas espanholas

Há grupos de Facebook para resgates em sete regiões de Espanha. Mais de 3300 membros recolhem plantas abandonadas que encontram na rua ou recebem-nas de proprietários que já não as conseguem manter.

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Só em Sevilha, são 2400 pessoas a salvar plantas de interior Scott Webb/Unsplash

As ruas de Espanha têm uma nova equipa de resgate – para salvar plantas. Encontrar uma planta de interior no lixo público ou na berma do passeio não é indiferente para os cerca de 3300 membros da comunidade do Facebook, que a fotografam e partilham a sua localização para lhe arranjar uma nova casa.

Pepe Ortiz criou o primeiro grupo em Agosto de 2020, quando percebeu que não podia recolher sozinho todas as plantas que encontrava na cidade de Sevilha. Confrontado com o facto de a sua casa estar mais verde a cada dia que passava, optou por uma solução prática e pediu ajuda para cumprir a sua missão. Hoje, pode contar com uma comunidade de 2400 pessoas.

“O objectivo deste grupo eco-solidário é encontrar casas para todas aquelas plantas abandonadas ou cujos proprietários já não podem cuidar delas, para lhes dar uma segunda oportunidade”, lê-se na descrição do grupo, no Facebook.

Entretanto, com a colaboração de uma equipa de sete moderadores voluntários, o engenheiro de 52 anos já criou grupos para outras seis áreas de Espanha, de Galiza a Madrid, acumulando um total de 3300 membros.

Ao passo que alguns utilizadores partilham fotografias de plantas que encontram na rua com a sua localização exacta para que outros as possam recolher, outros oferecem plantas das quais, por diversos motivos, já não conseguem cuidar. Naquele pequeno canto da internet, há de tudo, mas a ideia é sempre a mesma: salvar plantas que iam acabar em aterros.

Uma visita rápida à página com as regras do grupo denuncia uma palavra que é várias vezes destacada: o respeito. Respeito para com os outros utilizadores e para com as plantas é um resumo do que se pede no momento da adesão. “Neste grupo, quem dá uma planta para adopção só espera que esta seja cuidada adequadamente”, diz uma das regras da comunidade.

A missão de Pepe Ortiz não se resume ao resgate. Ao The Guardian, revela querer, com esta iniciativa, começar um debate sobre o valor que atribuímos às plantas que temos em casa. “É uma reclamação das plantas como um ser vivo”, afirma, citado pelo Guardian. “As pessoas têm de perceber que elas não são apenas objectos para serem usadas e descartadas. Merecem respeito, carinho e uma dose de dignidade”, acrescenta.

Mais abandonos na época festiva

A quantidade de plantas abandonadas que os membros da comunidade encontram depende, em parte, da altura do ano. Se a estação mudar, é provável que uma maior quantidade apareça nas ruas, influenciada pelas limpezas de Primavera ou pelas mudanças de rotina trazidas que o Outono traz.

Por outro lado, a altura de Natal e Ano Novo representa a época alta dos abandonos, com uma quantidade “gigante” de pinheiros, abetos e poinséttias (flores de Natal) a ter um triste fim no lixo após servirem como decoração, conta Ortiz ao The Guardian. No ano passado, o grupo salvou uma a duas plantas por dia após a época de festas. Agora com mais comunidades de Facebook por toda a Espanha, é provável que o número de resgates aumente.

"Muitas destas plantas são vendidas a preços baratos e as pessoas compram-nos como decorações temporárias ou sem saber como cuidar delas", relata. "Ou as empresas compram-nas porque ficam bem no restaurante ou na loja e descartam-nas quando as Festas terminam.”

Segundo estimativas do próprio, Pepe Ortiz dedica cerca uma hora por dia à gestão do grupo, com o objectivo de criar uma mudança e fazer com que a sociedade reconheça as plantas da mesma forma que reconhece os animais como seres sencientes. Mas, dois anos depois, ainda “é um processo lento”.

“Acho que temos muito que aprender. Temos de aprender a coexistir lado a lado com as plantas, a usá-las de uma forma responsável, a cuidar delas e a respeitá-las”, conclui.

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