Da “auto-estrada para o inferno” à “carnificina climática”: os seis avisos de Guterres em 2022

No ano de cimeiras climáticas, António Guterres criticou a “ganância grotesca” das petrolíferas e disse que a humanidade é uma “arma de extinção em massa”, que trata a Terra como uma casa-de-banho.

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O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres Reuters/ANDREW KELLY

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, tem sido uma das principais vozes a alertar para a crise climática e para os problemas que vamos enfrentar (e que já estamos a sentir) por causa das alterações climáticas. O tom das suas palavras tem-se tornado mais acutilante nos últimos anos e tornam mais evidente a realidade da emergência climática.

Neste artigo, recordamos seis frases que António Guterres usou em 2022 para falar sobre a emergência da crise climática.

“Estamos numa auto-estrada rumo ao inferno, com o pé no acelerador”

Foi a frase que António Guterres disse na abertura da cimeira do clima (a COP27) em Sharm-el-Sheikh, no Egipto, em Novembro deste ano para exemplificar o rumo perigoso em que nos encontramos por causa das alterações climáticas.

O objectivo do discurso era acentuar a urgência de as nações chegarem a acordo para reduzirem as emissões de gases com efeito de estufa e financiarem as medidas necessárias para que todos os países, mesmo os mais pobres, consigam fazer essa redução, por um lado, e adaptarem-se às alterações climáticas. “A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer”, afirmou ainda Guterres no seu discurso de abertura.

“Esta ganância grotesca [das petrolíferas] está a castigar as pessoas mais pobres e vulneráveis, enquanto destrói a nossa única casa”

Foi em Agosto que António Guterres acusou a indústria do petróleo, do gás e os seus financiadores de uma “ganância grotesca” e apelou aos governos para “taxarem estes lucros excessivos” para apoiarem as pessoas mais vulneráveis.“É imoral que as petrolíferas e as empresas de gás estejam a fazer lucros recordes a partir da crise energética e graças às pessoas e comunidades mais pobres, com um custo enorme para o clima”, dizia António Guterres, em Nova Iorque, referindo-se ao impacto dos gases com efeito de estufa nas alterações climáticas.

“Tenho visto muitos desastres humanitários em todo o mundo, mas nunca vi uma carnificina climática desta magnitude. Simplesmente não tenho palavras para descrever o que vi hoje”

Durante uma visita ao Paquistão no início de Setembro, António Guterres disse que nunca viu um desastre climático como aquele que o país enfrentava devido às inundações, considerando na cidade portuária de Karachi que se tratava de uma “carnificina climática”.

"O Paquistão precisa de apoio financeiro maciço para superar esta crise; isto não é uma questão de generosidade, é uma questão de justiça”, acrescentou ainda o antigo primeiro-ministro português, considerando que “a humanidade tem estado em guerra contra a natureza e a natureza contra-ataca”, declarou.

Com o nosso apetite infindável pelo crescimento económico sem limites e desigual, a humanidade tornou-se uma arma de extinção em massa. Estamos a tratar a natureza como uma casa de banho. E, no fundo, a cometer suicídio através das nossas acções”

No início da 15.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica – a COP15 (que se realizou em Dezembro em Montreal, no Canadá), o secretário-geral das Nações Unidas disse que a humanidade se tornou uma “arma de extinção em massa”. “Estamos em guerra com a natureza. Hoje não estamos em harmonia com a natureza”, disse.

“A perda da natureza e da biodiversidade é um elevado custo humano. Um custo que medimos em empregos, fome, doenças e mortes. Um custo que se estima que até 2030 será de três biliões de dólares devido à degradação dos ecossistemas. Um custo que se pode medir em preços mais elevados pela água, pelos alimentos, pela energia”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas.

“Deixem-me pedir desculpa à vossa geração em nome da minha em relação ao estado do oceano, da biodiversidade e das alterações climáticas. Fomos lentos e muitas vezes relutantes a reconhecer que as coisas estavam a ficar piores e piores. Mesmo hoje, estamos a movermo-nos demasiado devagar”

No arranque da Conferência dos Oceanos, que decorreu em Junho em Portugal, António Guterres esteve reunido com um grupo de jovens na praia de Carcavelos e aproveitou o momento para pedir desculpas à geração “que vai herdar um planeta com problemas”. E admitiu: “Ainda estamos na direcção errada”.

O mundo precisa de “uma avalanche de acção” para reverter as alterações climáticas

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu em Fevereiro (ainda antes do início da guerra na Ucrânia) que o mundo precisava de “uma avalanche de acção” para reverter as alterações climáticas, notando que com os compromissos actuais, as emissões poluentes vão aumentar em vez de diminuir durante esta década.

“Prevê-se que as emissões globais aumentem quase 14 por cento ao longo desta década. Isso significa catástrofe”, avisou Guterres. E afirmou ainda que “está na altura de entrar em modo de emergência” e cortar subsídios à exploração de combustíveis fósseis, eliminar progressivamente o carvão como fonte de energia, pôr um preço nas emissões carbónicas e fornecer aos países dependentes do carvão “apoio financeiro e tecnológico” para fazerem diferente.

Quem mais sofre já com “perturbações climáticas que são claras e que já cá estão” são “pequenas nações insulares, países menos desenvolvidos e povos vulneráveis em todo o lado, que estão a um choque do apocalipse”, terminou por dizer.