No País dos Arquitectos: antigo Teatro Jordão e Garagem Avenida, onde convivem diferentes tempos

Neste episódio, ouvimos o arquitecto Manuel Roque. O podcast No País dos Arquitectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. Segue-nos nas plataformas habituais.

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José Campos
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No 52.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Manuel Roque, do atelier Pitágoras, sobre a reabilitação do edifício do antigo Teatro Jordão e Garagem Avenida, em Guimarães.

Um dos maiores desafios do projecto foi a transformação dos edifícios existentes em espaços com novas funções. “Era um programa bastante ambicioso, porque no fundo a grande ocupação do conjunto construído destinava-se à implantação de três escolas", explica o arquitecto: o Conservatório de Guimarães (Escola de Música da Academia Valentim Moreira de Sá), da Sociedade Musical de Guimarães, a Escola de Teatro e Artes Performativas e a Escola de Artes Visuais, da Universidade do Minho. Esta última encontra-se na Garagem Avenida e funciona como “uma galeria de arte aberta à cidade”. Para além disso, o projecto albergou “as Bandas de Garagem” e “um programa autónomo com o auditório”.

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Convém lembrar que o Teatro Jordão, antigo Cineteatro – assim como o edifício da Garagem Avenida (um dos melhores exemplos de uma estética Art Déco construídos em Guimarães) – apesar de ter estado fechado quase 30 anos, é para os vimaranenses um edifício de forte carga simbólica e essa memória foi também respeitada durante o projecto.

O arquitecto recorda a complexidade do projecto e a sua necessidade de articular “os vários edifícios e os vários programas”: “Existe uma convivência entre estilos, materiais e tempos diferentes. Isso dá-lhe riqueza e não tem mal nenhum. Pelo contrário. O mal não está nas volumetrias. Eu não posso fazer algo com uma imagem de há 200 anos. Tenho de fazer aquilo que somos hoje. A história sempre foi feita assim. É um somatório. As pessoas vão acrescentando camadas. Desse ponto de vista, [o projecto] também exerce essa pedagogia.” Sugerindo o encontro entre várias realidades, Manuel Roque garante ainda que houve “um compromisso do edifício com a cidade”: “Eu diria que é quase uma metáfora daquilo que é a própria cidade. É o palco onde as pessoas se encontram.”

Portanto, o conjunto “liga diferentes pontos”: “Existe uma escada que faz precisamente essa ligação da cota alta, da Avenida D. Afonso Henriques à cota baixa da Travessa de Vila Flor. Estamos a falar de dois pisos, mas que são zonas da cidade distintas, onde dá muito jeito ter essas ligações.” A par destas conexões, o projecto buscou também um “sentido de unidade”: “Foi-se tentando resolver esse sentido através de alguns elementos arquitectónicos, da própria cor. Desenhámos também uma janela que se repete nos vários edifícios.”

Importa referir que Guimarães teve, em tempos, uma vasta tradição na indústria têxtil, mas no final do século XX, face à forte concorrência dos mercados externos, começou a perder relevância, por isso a cidade reinventou-se e enfrentou “um novo paradigma”. Manuel Roque mantém viva a memória desses tempos e revela o antes e o depois: “Na cota mais baixa – do lado onde estão os edifícios do Teatro Jordão e da Garagem Avenida – situava-se uma zona que se denominava como “Zona de Couros”. Hoje, a Câmara chama-lhe Bairro C.” A inicial vem de “Cultura” e “Conhecimento” e o que se procura é “congregar vários saberes”.

Apesar de sublinhar o facto de o centro histórico de Guimarães ter sido classificado Património Mundial da UNESCO, o arquitecto não deixa de ter uma posição crítica e defende a valorização da cidade para lá do seu centro: “Há uma sobrevalorização do centro histórico e o resto não tem esse tratamento. É muito importante que as pessoas percam alguns conceitos ou preconceitos relativamente àquilo que devem ser as cidades hoje em dia.”


No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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