Marcelo foi abordado por populares exaltados e sugeriu que o protesto era partidário
Duas pessoas acusaram o Presidente da República de não “fazer nada” na prevenção contra os incêndios e lembraram Sócrates e Pinho.
O Presidente da República foi interpelado, esta terça-feira de manhã, em Murça, Vila Real, por duas pessoas que se mostraram bastante exaltadas com a inacção do poder político na prevenção de incêndios após a tragédia de Pedrógão Grande, mas também com outras situações de ex-políticos. Marcelo Rebelo de Sousa, que acompanha o ministro da Administração Interna em visitas a zonas afectadas por incêndios, associou os protestos a partidos “mais radicais na crítica”.
Os dois populares acusaram o Presidente e o primeiro-ministro de não terem feito “nada” em “cinco anos” para acabar com os incêndios, queixaram-se da falta de limpeza da floresta em Pedrógão Grande e de nada ter mudado nos combate aos fogos nos últimos 40 anos, em que estiveram no poder PS e PSD. “O senhor engana os portugueses”, disse um dos homens, que se identificou como emigrante. E acrescentou: “O senhor fala muito bem, é muito educado, mas não faz nada.”
Ao longo de mais de dois minutos, segundo imagens transmitidas pelas televisões, os populares confrontaram o Presidente com as remunerações de José Sócrates e de Manuel Pinho e não baixaram o tom de voz, apesar das tentativas de Marcelo para iniciar um diálogo.
Mais tarde, perante os jornalistas, o chefe de Estado referiu que os protestos fazem parte da democracia, mas sugeriu que as críticas tinham origem partidária.
“Conjuntamente à crítica que [os dois] fizeram, havia crítica a partidos que não estavam no Governo, críticas que não tinham que ver com nada. Portanto, era muito partidarizada e muito politicamente partidarizada. Isso é a democracia, haver partidos ou movimentos de opinião mais radicais na crítica. Pode até acontecer que o povo um dia lhes dê o poder”, disse, referindo que houve eleições legislativas em Janeiro passado.
“O povo escolheu como escolheu. Compreendo – já me aconteceu – que quem não ganhou eleições e tenha uma percentagem inferior fique mais contestatário. Pode ser que no futuro tenha uma hipótese”, acrescentou. “A democracia é isto. Pode haver 70%, 80%, 90% de pessoas que percebem que há coisas que demoram tempo de mais a mudar. Depois há quem sofra e quem seja mais crítico”, afirmou, referindo-se às alterações no ordenamento da floresta.
Não é a primeira vez que Marcelo é abordado por populares ou por manifestantes exaltados, embora seja raro.
O líder do Chega, André Ventura, por seu lado, partilhou no Twitter o vídeo em que os dois homens abordam o Presidente da República, com um comentário: “É o que dá mais de 40 anos a brincar com as pessoas, a roubar os portugueses e a sentirmo-nos ultrapassados por todos. O sistema está a cair de podre.”