Entrada da Bielorrússia na guerra: operação de desinformação russa ou possibilidade real?
Putin e Lukashenko voltam a encontrar-se hoje, dando força à hipótese de nova invasão de forças russas a partir da fronteira bielorrussa. Ucrânia anulou acordo de controlo militar com a Bielorrússia.
A Bielorrússia anunciou esta terça-feira que a Ucrânia anulou o acordo entre os dois países para controlo de actividades militares nas zonas de fronteira, quando aumenta a especulação de que Moscovo pode estar a preparar uma entrada na Ucrânia através da Bielorrússia.
O acordo entre Kiev e Minsk permitia o controlo por ambos os países da actividade militar ate 80 quilómetros de distância da fronteira e foi anulado por uma resolução do Conselho de Ministros da Ucrânia a 23 de Dezembro, disse Valery Revenko, responsável do departamento de cooperação do Ministério da Defesa da Bielorrússia, no Twitter.
Um responsável do Governo ucraniano tinha antes confirmado que o país reforçou a sua presença militar junto à fronteira com a Bielorrússia, preparando-se para a possibilidade de esta ser usada para a entrada de tropas russas ou bielorrussas.
Esta terça-feira, o responsável da informação militar ucraniana, Kyrylo Budanov, afirmou que, embora o risco de uma entrada através da Bielorrússia seja considerado “baixo”, Kiev está preparada para qualquer cenário.
As forças que vigiam a fronteira dizem que até agora não viram nenhum grupo a formar-se na Bielorrússia com a capacidade de levar a cabo uma invasão, afirmou pelo seu lado o porta-voz da Guarda Fronteiriça, Andriy Demchenko, num briefing no centro de media da Ucrânia.
Os rumores de uma entrada de forças russas – com participação de soldados bielorrussos – a partir da Bielorrússia começaram a ganhar força na sequência da primeira viagem do Presidente russo, Vladimir Putin, ao estrangeiro depois de ordenar a invasão da Ucrânia – Putin aterrou em Minsk na segunda-feira passada para se encontrar com o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko. Os dois responsáveis encontraram-se de novo, esta terça-feira, em São Petersburgo, na cimeira da Comunidade de Estados Independentes, composta por países da antiga União Soviética.
Até agora, Lukashenko permitiu exercícios militares russos no seu território e ainda que a Rússia usasse o país para invadir a Ucrânia a 24 de Fevereiro – a enorme coluna russa que se aproximou de Kiev, mas não conseguiu chegar à capital, partiu da Bielorrússia.
Especula-se que Putin esteja a pressionar Lukashenko para que este junte soldados bielorrussos a uma força russa para lançarem nova tentativa de conquistar a capital da Ucrânia.
O líder bielorrusso está entre a espada e a parede: foi graças ao apoio de Putin que conseguiu manter-se no poder, esmagando uma revolta após as últimas eleições, consideradas fraudulentas, mas, se impuser uma entrada na guerra ao exército, poderá enfrentar acções de boicote e novas ameaças ao seu poder.
"Pontos nos ii"
Horas antes, Lukashenko afirmou que, durante o seu mais recente encontro com Putin, os dois tinham “posto muitos pontos nos ii” e que iriam agora concretizar os acordos alcançados, cita a agência Europa Press.
Steve Rosenberg, editor do serviço russo da emissora britânica BBC, dizia na altura da visita de Putin a Minsk que os rumores podem ser apenas isso, ou fazer parte de uma tentativa de levar a Ucrânia a desviar forças militares para a fronteira com a Bielorrússia.
O centro norte-americano Institute for the Study of War (ISW) diz que o Kremlin tem estado a criar condições para “uma nova ofensiva a partir da Bielorrússia, possivelmente com o objectivo de tomar Kiev, desde pelo menos Outubro de 2022”, mas considera que pode ser mesmo essa a intenção do Kremlin ou apenas “uma operação de desinformação” da Rússia. O ISW mantém, para já, a sua avaliação deste desenvolvimento como “improvável, mas possível”.
No briefing desta terça-feira, o chefe da informação militar da Ucrânia dizia que “a Bielorrússia e a Rússia estão constantemente a fazer escalar” a retórica e os sinais, com “treino conjunto de unidades militares, manobras de equipamento, verificações de prontidão de combate e a expansão do agrupamento de efectivos do chamado ‘Estado aliado’”, declarou Budanov. “No entanto, a sua composição não mudou, nem a natureza das suas acções”, garantiu. “As unidades existentes estão em rotação.”
Por outro lado, “a Ucrânia está bem consciente de que a Rússia está a tentar de todas as maneiras que a Bielorrússia entre numa guerra aberta ou pode tentar usar esta direcção numa segunda invasão”, disse o responsável pelos guardas fronteiriços.
No domingo, a Bielorrússia anunciou que o sistema de mísseis Iskander, com capacidade para transportar ogivas nucleares, estão prontos a ser utilizados, assim como os sistemas de defesa antiaérea S-400, ambos deslocados pela Rússia para o país vizinho.