Taiwan denuncia maior incursão de sempre de aviões chineses em redor do seu espaço aéreo

Ministério da Defesa da ilha reivindicada pela China diz que 43 dos 71 meios aéreos chineses cruzaram o estreito de Taiwan. Pequim justifica manobras com lei “provocadora” dos EUA.

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Bandeiras taiwanesas junto ao edifício do Ministério da Defesa, em Taipé Reuters/ANN WANG

O Ministério da Defesa de Taiwan denunciou esta segunda-feira a entrada de pelo menos 71 aviões e drones da República Popular da China na sua zona de identificação de defesa aérea durante cerca de 24 horas, entre sábado e domingo.

Números que, a confirmarem-se, consubstanciam a maior incursão de aeronaves chinesas nas redondezas da ilha cuja soberania é reivindicada por Pequim.

Num relatório citado pela Reuters, o Ministério da Defesa de Taiwan diz que 43 aviões – que incluem caças e outro tipo de aeronave de guerra – cruzaram a “linha média”, um traço imaginário, com cerca de 180 quilómetros, que se estende ao longo do estreito de Taiwan, e que, ainda que não reconhecido oficialmente, funciona desde os anos 1950 como linha de separação de facto entre as águas territoriais da China continental e da ilha.

Foram ainda detectadas movimentações de sete navios de guerra chinesas nas imediações do território taiwanês.

Embora não confirmando a entrada dos seus aviões e navios nos espaços designados por Taiwan, Pequim explicou que levou a cabo manobras militares com “patrulhas conjuntas de prontidão de combate” e “exercícios de ataque conjuntos no mar e no espaço aéreo em redor da ilha de Taiwan”.

Citado pela Associated Press, um porta-voz do Comando do Teatro de Operações Oriental do Exército de Libertação do Povo chinês (ELP) disse que se tratou de “uma resposta firme à actual escalada e provocação EUA-Taiwan”.

Em causa, segundo Pequim, está a promessa norte-americana, inserida numa proposta de lei sobre o seu Orçamento de Defesa e aprovada nos últimos dias pelo Congresso dos EUA, para intensificar a cooperação com Taiwan em matéria securitária, que inclui até dez mil milhões de dólares em assistência e a agilização da venda de armas ao Exército taiwanês.

“Isto demonstra que algumas forças nos EUA estão a tentar apoiar os secessionistas da ‘independência de Taiwan’ com armas para o seu exército, provocando confrontação no estreito de Taiwan e empurrando os dois lados para a iminência da guerra”, escreve o Global Times, jornal do Partido Comunista Chinês, citando um porta-voz do Gabinete dos Assuntos de Taiwan.

Com cerca de 23 milhões de habitantes, Taiwan é governada de forma autónoma desde 1949, quando as forças comunistas de Mao Tsetung forçaram a fuga do Governo nacionalista de Chiang Kai-shek para a ilha.

Desde essa altura que Pequim trata Taiwan – que, entretanto, adoptou um sistema de governo democrático e parlamentar – como uma província sua “temporariamente ocupada” e defende a reunificação do território com a China continental.

Quando os EUA e os seus aliados passaram a reconhecer a República Popular da China como representante legítima do poder político chinês, na década de 1970, ao invés da República da China (Taiwan), reconheceram também o princípio “uma só China”, segundo o qual o território soberano chinês é uno e indivisível.

Ainda assim, e apesar de não ter laços diplomáticos oficiais com Taiwan, Washington salvaguardou as suas relações securitárias com os taiwaneses, aprovando uma série de leis através das quais está obrigada a fornecer meios à ilha para esta se defender militarmente.

Para além disso, Joe Biden, Presidente dos EUA, tem dado a entender que os norte-americanos podem recorrer à força em caso de invasão da ilha, uma tomada de posição que poria em causa a política da “ambiguidade estratégica” que as várias administrações seguem há décadas.

Nos últimos anos, também por causa da insistência do Presidente chinês, Xi Jinping, em alcançar a reunificação durante a sua liderança, as incursões de aviões e as manobras do ELP nas imediações de Taiwan têm sido uma constante.

E quando, este Verão, a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitou a ilha de surpresa, a China realizou os maiores e mais abrangentes exercícios militares nos céus e nas águas próximas do território, prometendo “normalizar” o cerco a Taiwan.

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