A população de ursos polares do Oeste da Baía de Hudson do Canadá diminuiu 27% em apenas cinco anos, de acordo com um relatório governamental publicado esta semana, sugerindo que as alterações climáticas estão a ter um forte impacto nestes animais.
Todos os Outonos, os ursos que vivem ao longo da orla ocidental da baía passam pela cidade turística subárctica de Churchill, Manitoba, à medida que regressam ao gelo marinho. Isto tornou a população não só no grupo mais estudado do mundo, mas também no mais famoso, com a economia local de observação de ursos avaliada em 7,2 milhões de dólares canadianos (cerca de 5 milhões de euros) anualmente.
No entanto, a avaliação do Governo de Nunavut constata que apenas 618 ursos permaneceram em 2021 – uma queda de cerca de 50% em relação aos anos 80. "De certa forma, é chocante", afirma John Whiteman, cientista chefe de investigação na Conservação Internacional dos Ursos Polares sem fins lucrativos. "O que é realmente grave é que estes declínios são do tipo que, a menos que a perda de gelo do mar seja travada, se prevê que acabem por causar... a extinção."
Os ursos polares dependem do gelo do mar para caçar, ao vigiar os buracos de respiração das focas. Mas o Árctico está agora a aquecer cerca de quatro vezes mais depressa do que o resto do mundo. À volta da Baía de Hudson, o gelo marinho sazonal está a derreter mais cedo na Primavera, e a formar-se mais tarde no Outono, forçando os ursos a ficar mais tempo sem comer.
Os cientistas avisaram que uma ligação directa entre o declínio da população e a perda de gelo marinho na Baía de Hudson ainda não era clara, uma vez que quatro dos últimos cinco anos têm visto condições de gelo moderadamente boas. Em vez disso, disseram, as alterações climáticas na população local de focas podem podem ser a explicação para esta redução do número de ursos.
E embora seja possível que alguns ursos se tenham deslocado, "o número de ursos machos adultos tem permanecido mais ou menos o mesmo". "O que impulsionou o declínio foi um número reduzido de ursos jovens e fêmeas adultas", explica Stephen Atkinson, um biólogo independente da fauna selvagem que liderou a investigação em nome do governo.
Esta mudança na demografia não se enquadra "na ideia de que os ursos estão a sair da baía ocidental de Hudson”, acrescenta.
"Houve um número muito baixo de crias a serem produzidas em 2021", observa Andrew Derocher, que lidera o Laboratório de Ciência do Urso Polar da Universidade de Alberta. "Estamos a olhar para uma população que envelhece lentamente e, quando há anos maus, os ursos mais velhos são muito mais vulneráveis ao aumento da mortalidade.”
Também preocupante para os cientistas, o relatório sugere que os declínios aceleraram. Entre 2011 e 2016, a população caiu apenas 11%. Há 19 populações dispersas de ursos polares entre a Rússia, Alasca, Noruega, Gronelândia e Canadá. Mas a Baía Ocidental de Hudson está entre os locais mais a sul, e os cientistas projectam que os ursos aqui estarão provavelmente entre os primeiros a desaparecer.
Um estudo de 2021 na revista Nature Climate Change revelou que a maioria das populações de ursos polares do mundo está a caminho de um colapso até 2100, se as emissões de gases com efeito de estufa não forem "fortemente reduzidas".