Alerta na Antárctida: 80% das colónias do pinguim-imperador em risco de extinção

Um estudo internacional aponta que 65% dos animais terrestres nativos da Antárctida podem desaparecer até 2100. O pinguim-imperador é o mais vulnerável, com 80% das suas colónias em risco de extinção.

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Um pinguim-imperador solitário flutua num icebergue longe da sua colónia na Península Antárctica Jasmine Lee

Num cenário em que o aquecimento global segue o mesmo ritmo, uma Antárctida sem pinguins-imperadores não será apenas produto da imaginação. A espécie que protagoniza o filme Happy Feet (2006) pode ser alvo de reduções significativas na sua população até ao ano de 2100, juntamente com dois terços dos animais nativos da região.

São estes os resultados de um estudo internacional, publicado na revista científica Plos Biology na semana passada, que juntou 12 países na tentativa de perceber que espécies da Antárctida são mais vulneráveis às alterações climáticas e identificar as medidas com melhor relação custo-benefício para combater o problema.

Além da avaliação de dados empíricos, foi pedido a 29 especialistas para definir possíveis estratégias de gestão, estimar o seu custo e viabilidade e avaliar os potenciais benefícios para as diferentes espécies.

Os investigadores concluíram que se pode esperar um declínio de 65% da população de animais terrestres e aves marinhas. Um olhar mais positivo fixa esta percentagem nos 37% e, no pior dos cenários, esta redução seria de 97%. O icónico pinguim-imperador foi identificado como o mais vulnerável, com 80% das suas colónias em risco de praticamente desaparecerem. Caso os objectivos do Acordo de Paris se cumpram e o aquecimento global seja inferior a dois graus Celsius, a percentagem baixa para os 31%.

Não é a primeira vez que o pinguim-imperador levanta preocupações: em Outubro, já os Estados Unidos tinham classificado esta espécie como ameaçada, ao abrigo do Endagered Species Act Endémico da Antárctida, devido ao desaparecimento de uma porção significativa do gelo na região.

Seguem-se os nemátodos de solo seco, como a lombriga Scottnema lindsayae, que, por prosperar em meios secos e salinos, já está em declínio, pois o derretimento das calotes polares leva a que o seu habitat se torne mais húmido e perca a concentração de sal. Um alto grau de vulnerabilidade foi também atribuído ao pinguim-de-Adélia e ao pinguim-de-barbicha.

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Caso os objectivos do Acordo de Paris se cumpram, o declínio de espécies pode ser atenuado Jasmine Lee

“Estes resultados demonstram que as actuais acções de conservação ao abrigo das disposições do Protocolo sobre Protecção Ambiental do Tratado da Antárctida são insuficientes para conservar a biodiversidade Antárctica num futuro mais quente”, lê-se no artigo científico.

Conservação pode custar 22 milhões de euros

O relatório propõe ainda um conjunto de dez medidas de mitigação a nível global e regional que, aplicadas em conjunto, podem atingir um custo de quase 22 milhões de euros por ano. Apesar de o estudo frisar que “influenciar a política global para limitar eficazmente as alterações climáticas é a estratégia de conservação mais benéfica”, actuar a nível regional para minimizar os efeitos da actividade humana na Antárctida é, estimam os autores, o plano de acção com melhor custo-benefício.

"Existem múltiplas ameaças que afectam as espécies da Antárctida, apesar de pensarmos nela como uma remota e imaculada selva", afirma Jasmine Lee, autora principal do estudo, citada pelo The Guardian. "A maior ameaça não vem de dentro", acrescenta. Segundo os investigadores, actividades humanas como a investigação e o turismo comportam um grande risco de introdução de espécies invasoras e doenças, que colocam em risco os pinguins e outros animais nativos.

Entre outras medidas locais, está a gestão sustentável da infra-estrutura e dos transportes, protecção da vegetação regional de danos físicos e a criação de áreas protegidas. “Esforços globais e regionais simultâneos são críticos para assegurar a biodiversidade da Antárctica para as gerações futuras”, conclui o estudo.