O que é o fenómeno “ciclone-bomba” que está a atingir os EUA e que já aconteceu em Portugal?

Um ciclone-bomba acontece quando a pressão atmosférica baixa repentinamente. Em Portugal, aconteceu em 1941 quando um “ciclone varreu o país”, mas também se registou em anos mais recentes.

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Neve intensa e ventos fortes no Buffalo, Nova Iorque JALEN WRIGHT/EPA
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Neve intensa e ventos fortes no Buffalo, Nova Iorque JALEN WRIGHT/EPA
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Neve intensa e ventos fortes no Buffalo, Nova Iorque JALEN WRIGHT/EPA
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Neve intensa e ventos fortes no Buffalo, Nova Iorque JALEN WRIGHT/EPA
,Tempestade de inverno
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Tempestade no Ontário, Canadá CARLOS OSORIO/REUTERS
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Tempestade no Ontário, Canadá CARLOS OSORIO/REUTERS
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Tempestade no Ontário, Canadá CARLOS OSORIO/REUTERS
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Tempestade no Ontário, Canadá CARLOS OSORIO/REUTERS
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Tempestade no Ontário, Canadá CARLOS OSORIO/REUTERS

A tempestade de neve que está a afectar os Estados Unidos e o Canadá está a ser apelidada pelos serviços meteorológicos de “ciclone-bomba” – um fenómeno meteorológico que já se registou em Portugal, embora sem neve.

Os avisos meteorológicos destes últimos dias na América do Norte deixaram milhões de pessoas sob alerta e há registos de mortes causadas pelo mau tempo; há ainda acidentes, casas sem electricidade, estradas inacessíveis, voos cancelados. Em que consiste este fenómeno?

O que é um ciclone-bomba?

O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA alerta para a existência de um "ciclone-bomba" que está a afectar vários estados norte-americanos devido à passagem de uma massa de ar árctico. Este fenómeno também é chamado de “ciclogénese explosiva” ou “bomba meteorológica” – há meteorologistas que acreditam que o termo “ciclone-bomba” pode ser alarmista.

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Um restaurante coberto de gelo na região de Buffalo, Nova Iorque, EUA Kevin Hoak/via REUTERS

Este fenómeno "caracteriza-se por um decréscimo muito acentuado na pressão atmosférica no centro de uma depressão, num curto intervalo de tempo", explica o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Em suma, é a formação súbita de uma tempestade em que a pressão atmosférica baixa abruptamente num curto espaço de tempo. Este fenómeno meteorológico traz associado "tempo severo", com possibilidade de ventos fortes, agitação marítima e precipitação intensa.

Como explica o IPMA, "as depressões são regiões de baixa pressão atmosférica em torno das quais o vento sopra no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio no hemisfério norte e sopra no sentido do movimento dos ponteiros do relógio no hemisfério sul". A ciclogénese acontece quando se cria uma zona depressionária e diz-se explosiva quando a queda de pressão no centro é muito rápida.

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As temperaturas gélidas em Irving, Nova Iorque, EUA Lindsey DeDari/REUTERS

É um fenómeno raro?

Ainda que este fenómeno não seja assim tão raro (ainda em Janeiro houve um ciclone-bomba nos EUA), este episódio está a ser bastante intenso, sobretudo por causa dos ventos fortes que podem levar a neve e chuva para mais zonas dos Estados Unidos, explica o jornal The New York Times. O facto de coincidir com a época natalícia fez com que afectasse mais pessoas que estavam a planear viajar para estar com as famílias.

Os ciclones-bomba são mais comuns na zona Leste dos EUA – que está a ser agora mais afectada – do que no resto do território.

Já aconteceu em Portugal?

Sim. Este fenómeno aconteceu em Portugal, ainda que não com tempestades de neve a afectar grande parte do território como agora se vê nos EUA e Canadá. Em Portugal, o fenómeno tem sido sobretudo acompanhado de ventos fortes e agitação marítima.

Que casos houve em Portugal?

A 15 de Fevereiro de 1941, “o país foi varrido de forma muito violenta por uma depressão muito cavada que passou a ser conhecida como o 'ciclone de 1941'”, lê-se no site do IPMA. A evolução dessa depressão pode ser classificada como ciclogénese explosiva – o tal ciclone-bomba – com “os valores de pressão a descerem acentuadamente em 24 horas, nomeadamente em Coimbra”.

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O evento de 15 de Fevereiro de 1941 em Portugal IPMA

Nessa altura, foi registada em Lisboa uma rajada de vento de 129 quilómetros/hora; em Coimbra uma rajada de 133km/hora e no Porto registou-se a 167km/hora, refere o IPMA. Assim que se registou essa rajada na Serra do Pilar, no Porto, o "anemómetro avariou" – trata-se do aparelho utilizado para medir a velocidade do vento. Este ciclone de 1941 provocou cerca de 200 mortes por sobreelevação do nível do mar que teve reflexo no rio Tejo.

Também em 2013 o vento ultrapassou os 100 quilómetros por hora em várias zonas do país e as ondas chegaram aos 19,4 metros na Nazaré. “Foi uma situação excepcional, mas não única”, explicava à data o meteorologista Nuno Moreira, do IPMA.

Portugal tinha já enfrentado outros três episódios semelhantes em anos recentes. O mais dramático ocorreu a 5 de Novembro de 1997, causando cheias que provocaram a morte de 11 pessoas no Alentejo. Os outros ocorreram a 7 de Dezembro de 2000 e a 23 de Dezembro de 2009. Este último causou cortes na electricidade e grandes estragos na agricultura e em estabelecimentos comerciais de várias zonas da região Oeste do país.

Esse fenómeno de 23 de Dezembro de 2009, explica o IPMA, “resultou de uma depressão cujo ciclo de vida decorreu integralmente nas latitudes médias” e que sofreu o tal processo de ciclogénese explosiva, classificado pela rápida e intensa diminuição de pressão atmosférica no centro da depressão.

Isso criou um outro fenómeno chamado "sting jet", que é uma forte corrente descendente que pode alcançar a superfície e fazer com que haja fortes rajadas de vento numa superfície reduzida.

Que problemas está agora a causar nos EUA?

Mais de duas dezenas de pessoas morreram nestes dias nos Estados Unidos em incidentes relacionados com o mau tempo, incluindo acidentes rodoviários e pessoas que não conseguiram ter assistência médica por causa das estradas inacessíveis. Muitas pessoas têm ficado presas em carros e, no sábado, havia mais de 470 mil pessoas sem electricidade em casa. As autoridades pedem que não se saia de casa e não se ligue para os serviços de emergência a não ser que se trate de uma questão de vida ou de morte.

Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS, na sigla em inglês), o "ar árctico" está a afectar quase todo o país. Milhares de voos foram cancelados e as autoridades alertam para os riscos de congelamento repentino, rajadas de neve intensa, apagões súbitos e estradas congeladas.

Uma pessoa leva o cão ao colo em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
Um Pai Natal insuflável deitado ao chão por causa dos ventos fortes no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
A tempestade em Chicago, EUA, com um sinal a avisar para que se tenha cuidado com a queda de neve e com o gelo EPA/TANNEN MAURY
Uma pessoa a caminhar em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
Um peão a enfrentar o tempo frio em Chicago, nos EUA Reuters/MATT MARTON
Beau Rickwire percorre as ruas durante o tempo frio em Denver, nos EUA. Rickwire é sem-abrigo há cinco anos Reuters/ALYSON MCCLARAN
Os sem-abrigo são dos grupos mais vulneráveis aos fenómenos meteorológicos extremos Reuters/ALYSON MCCLARAN
Uma pessoa a andar de bicicleta pelo meio da neve em Toronto, Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
Um carro coberto de neve no Dacota do Norte, nos EUA, depois de uma tempestade de neve Reuters/TWITTER@BLAKERAFFERTY1
Um ciclista em Chicago, nos EUA Reuters/MATT MARTON
Um grupo de passageiros chega ao aeroporto de Chicago para tentar embarcar, mas há milhares de voos que foram cancelados nesta época natalícia por causa do mau tempo EPA/TANNEN MAURY
Um passageiro dorme no aeroporto em Chicago depois de milhares de voos terem sido cancelados por causa do fenómeno meteorológico Reuters/MATT MARTON
Agnes Tok procura a sua mala depois de o seu voo ter sido cancelado no aeroporto de Vancouver, no Canadá Reuters/JENNIFER GAUTHIER
Um passageiro descansa no chão no aeroporto de Vancouver, no Canadá Reuters/JENNIFER GAUTHIER
Um passageiro descansa no chão no aeroporto de Vancouver, no Canadá Reuters/JENNIFER GAUTHIER
Pessoas a caminhar em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
Uma tempestade em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
Tempestade em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
Tempestade em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
As ondas do lago Ontário no aeroporto da cidade de Toronto Billy Bishop Reuters/CARLOS OSORIO
Uma mulher a passear o seu cão durante uma tempestade de neve em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO
Gurnee, Illinois, Estados Unidos EPA/TANNEN MAURY
Um carro coberto de neve no Dacota do Norte, nos EUA, depois de uma tempestade de neve Reuters/TWITTER@BLAKERAFFERTY1
Cheias em Nyack, perto do rio Hudson, depois de uma tempestade. Nova Iorque, EUA Reuters/MIKE SEGAR
Cheias em Nyack, perto do rio Hudson, depois de uma tempestade. Nova Iorque, EUA Reuters/MIKE SEGAR
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Uma pessoa leva o cão ao colo em Toronto, no Canadá Reuters/CARLOS OSORIO

As temperaturas gélidas podem causar ferimentos causados pelo frio em poucos minutos, alertam os especialistas - o que pode ser sobretudo perigoso para quem tem de trabalhar no exterior ou para populações mais vulneráveis, como os sem-abrigo. As estradas inacessíveis representam ainda perigo para deslocações essenciais ou para pessoas que precisem de cuidados de saúde urgentes.

Além das fortes rajadas de vento, há temperaturas negativas, tempestades de neve e chuvas fortes noutras zonas do país. O serviço de meteorologia norte-americano ressalva que as "temperaturas frias podem ser possivelmente fatais" para quem fique preso na estrada, para quem não tenha condições de se manter quente em casa, para pessoas que trabalhem no exterior e para gado ou animais domésticos (sobretudo se estiverem no exterior).

O serviço de meteorologia dos EUA alertou ainda que este fenómeno pode fazer com que sejam atingidos recordes de temperatura mínima em várias zonas do país.

Quando vai melhorar?

As condições meteorológicas deverão melhorar a partir do início da próxima semana. O NWS refere que a neve começará a tornar-se menos intensa nestes próximos dias e que os ventos frios continuarão a atingir grande parte da população, com temperaturas um pouco mais moderadas na segunda-feira. Ainda assim, as condições para viajar continuam a ser "extremamente perigosas", sobretudo em zonas com neve.