A publicidade televisiva, sobretudo de empresas de telecomunicações, tem destacado a importância de um Natal com mais conexão entre amigos/as e familiares, como modo de aumentar a rede de suporte. Tal reduz risco perante a solidão e aumenta o suporte em questões de saúde mental. Este tema é, de facto, de verdadeira utilidade.
Não será novidade que temos um gap geracional gigante, com assimetrias acrescidas sobre jovens e idosos. Os jovens, a dar os primeiros passos para a autonomização na vida adulta, encontram naturalizada a narrativa da “reinvenção constante”, mas sem espaço para uma primeira descoberta com dignidade no que toca a ter (ou arrendar/ partilhar) casa, trabalho devidamente pago e alguma clareza na jornada de “sair do ninho”.
Por outro lado, embora haja aumento de esperança média de vida, continuam a existir insuficientes adaptações para modos de vida com diferentes necessidades, resultando no aumento da taxa de dependência entre população activa vs. população não activa, com aumento da percepção da idade como factor de exclusão.
Tudo isto concorre como receita para um crescente problema social, à qual adicionamos a taxa de emigração, reduzida taxa de natalidade, aumento da pressão nas gerações no meio do ciclo de vida, bem como a inflação mais elevada em muitas décadas (a título de exemplo, um 1 euro tem o valor real de 0,90 euros, à data). Assim, chegamos novamente à importância da sensibilização que está a ser feita sobre a solidão/ saúde mental.
Todas as pessoas podem ser alvo do “bicho” da vulnerabilidade, que é de difícil definição. Pode ocorrer simultaneamente: a existência de problemas financeiros; ansiedade da quebra de autonomia e falta de respostas; contextos onde não se respeitem características individuais; o que deve ser um espaço laboral; bem como acesso ao mercado de habitação. Em último caso, como isto afecta a nossa disponibilidade para interagir com outras pessoas.
Não tenho resposta para as diversas vulnerabilidades, mas tenho uma certeza: juntos somos mais. Não só quantitativamente, mas qualitativamente. Unindo o suporte entre pessoas-gerações somos mais autónomos, capazes de partilhar recursos (ex. de tempo, suporte financeiro ou ajuda em tarefas), conhecimento, ou mesmo, saber que podemos ver o mundo com outras pessoas com experiências e perspectivas diferentes.
Embora os desafios sejam diversos, têm muito mais em comum do que imaginamos para a resolução: a partilha e a capacidade de encontrar soluções conjuntas são uma forma infalível de se amenizar o contexto duro.
Convido-te a pensar como podes partilhar e crescer com pessoas de diferentes gerações? De diferentes perspectivas da tua? E que tal começar só por partilhar e estar presente?
Se não te sentires confortável ou quiseres partilhar desafios/dificuldades com pessoas fora do teu círculo, tens várias linhas gratuitas (e seguras) onde podes partilhar o que sentes:
- Linha SOS voz amiga. Linha de apoio emocional e prevenção ao suicídio: 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660
- Informação às Vítimas de Violência Doméstica: 800 202 148
- Serviço de Aconselhamento Psicológico da Linha SNS24: 808 24 24 24
- Sexualidade em Linha: 800 222 003
- SOS Estudante - Linha telefónica de apoio emocional e prevenção do suicídio: 239 484 020 / 969 554 545 / 915 246 060
O melhor presente é estares presente.