Comissão conclui que invasão do Capitólio se deveu a “um homem”: Donald Trump
Relatório final sublinha centralidade do ex-Presidente nos acontecimentos que precederam o ataque ao Congresso.
O relatório final da comissão de inquérito sobre a invasão ao Capitólio norte-americano, a 6 de Janeiro de 2021, identifica Donald Trump como o cabecilha de uma “conspiração com várias partes” destinada a reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020 e a mantê-lo no poder.
A conclusão não surpreende, tendo em conta a recomendação feita na segunda-feira por esta mesma comissão de que o ex-Presidente seja acusado judicialmente de ter cometido quatro crimes. Mas o relatório final, divulgado apenas nesta quinta-feira, reforça a centralidade de Trump em tudo o que se passou antes e depois do ataque. “A causa principal do 6 de Janeiro foi um homem, o antigo Presidente Donald Trump, que muitos outros seguiram. Nada do que se passou a 6 de Janeiro teria acontecido sem ele”, diz o documento.
No relatório com mais de 800 páginas são descritos em detalhe os esforços levados a cabo por Trump e pelos seus aliados próximos para pressionar autoridades eleitorais estatais a declararem-no vencedor, para espalhar mentiras sobre eventuais fraudes eleitorais e para incentivar os seus apoiantes a manifestarem-se junto ao Capitólio. Nos 64 dias que passaram entre a eleição e o ataque ao Congresso, Trump e os seus próximos terão tentado pressionar responsáveis políticos e eleitorais estatais pelo menos 200 vezes, tanto em público como em privado, por telefonemas, discursos ou posts nas redes sociais.
Já depois de iniciada a invasão ao edifício, e apesar de ter sido várias vezes aconselhado a fazê-lo, nomeadamente pela filha Ivanka, o ex-Presidente demorou mais de três horas a emitir um apelo de calma aos seus apoiantes. E mesmo depois disso, afirma o relatório, Trump e o seu advogado Rudolph Giuliani continuaram a tentar atrasar a sessão do Congresso em que Mike Pence certificaria a vitória de Joe Biden.
O relatório também faz recomendações de alterações legislativas para evitar que o processo eleitoral seja novamente posto em causa. Entre elas está a mudança de uma lei do século XIX, a que o Senado já deu luz verde na quinta-feira, e que esclarece o papel dos vice-presidentes nas sessões de validação dos votos do Colégio Eleitoral. Falta agora a aprovação da Câmara dos Representantes.
Outra proposta da comissão é que o Congresso avalie formalmente se Trump e os restantes envolvidos no ataque ao Capitólio podem ou não ser candidatos em futuras eleições. À luz da 14.ª emenda da Constituição dos Estados Unidos, aqueles que se “envolvam numa insurreição ou rebelião” estão proibidos de “ter qualquer cargo, civil ou militar” a nível nacional ou estadual.