Em 2022, o cinema não correu mal, mas pouca gente deu por isso

Ainda há espectadores de cinema? Isso seria outra conversa. Aqui exerce-se um direito de espectador: a “política” dos autores, escolher uns em vez de outros.

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Diário de um Romance Passageiro, de Emmanuel Mouret

França, Coreia, Portugal, Irão, Alemanha, Suíça, a a visão de conjunto. A rapidez da circulação no século XXI tinha que trazer algo de bom: talvez nunca tenhamos tido, no circuito comercial, o acesso “em tempo real” a tanta coisa de proveniência tão diferente. Se (ainda) há espectadores de cinema para acompanhar tanta diversidade, se eles ainda não migraram completamente para as “séries”, para as estreias de “prestígio” na Netflix, seria outra conversa. Como outra conversa seria o eclipse daquele que historicamente era o centro de produção dominador, esse lugar mítico chamado Hollywood, de onde desapareceu aquele que durante décadas foi um baluarte da exibição de cinema: o “filme médio” americano, os produtos oriundos de uma linha industrial, em série, e com ele o fim de uma série de coisas, como por exemplo os “géneros” (há quanto tempo não se vê, por exemplo, um policial? Pois, os “géneros” passaram para as “séries”…), extintos em função de um género único — os super-heróis — e de uma lógica de produção de protótipos onde os realizadores (bons, como Spielberg, ou péssimos, como Iñarritu) são as estrelas, a locomotiva e o chamariz. Não é a primeira vez que notamos esta ironia histórica: o cinema americano incorporou a lógica dos “autores”.

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