Chuvas intensas deixam-nos “preparados” para enfrentar o próximo Verão, diz APA

Precipitação do último mês deixou Portugal numa situação confortável em termos de disponibilidade de água. Mas chuvas exigem à Agência Portuguesa do Ambiente a gestão cautelosa dos recursos hídricos.

Foto
José Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), faz uma apresentação sobre a gestão hídrica feita na APA

A albufeira do Alto Lindoso, na fronteira do Minho com Espanha, está no centro da gestão do próximo fenómeno preocupante de chuva: esta sexta-feira e sábado prevê-se precipitação acentuada no Minho. Com terrenos encharcados, a chuva que vier acumular-se-á rapidamente em águas de escorrência, que vão engordar os rios daquela região. Se nada for feito, há um risco hipotético de novas cheias. Por isso, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já está em contacto com a EDP para baixar o nível da cota de água do Alto Lindoso.

“A albufeira está a ser esvaziada de nível para ficar mais estável e ter maior capacidade de encaixe para toda a água que vier”, explica Felisbina Quadrado, engenheira do Ambiente e directora do Departamento de Recursos Hídricos da APA.

Ou seja, a medida faz com que a albufeira fique com maior capacidade para receber mais água. Isto dá mais margem de manobra. Se chover muito e os rios a jusante subirem, é possível travar o volume que vem daquela albufeira e evitar cenários mais graves. “Se for preciso que não saia do Alto Lindoso nem mais uma gota, a albufeira pára”, acrescenta a perita, durante uma apresentação para jornalistas que a APA fez esta quinta-feira, em Lisboa, sobre a gestão dos recursos hídricos.

Foto
José Pimenta Machado, vice-presidente da APA

Este é apenas um exemplo de gestão a nível hidrológico para que os riscos associados às cheias (e também às secas) sejam minimizados. É um desafio que se complexificou com as alterações climáticas. O exemplo deste ano é paradigmático: depois de meses com baixíssima precipitação que se transformaram numa das piores secas registadas em Portugal, vieram semanas com fenómenos de precipitação excepcionais.

Chuva diminui preocupação com seca

Apesar de os desastres se terem multiplicado, a chuva transformou a perspectiva a médio prazo em relação à disponibilidade de água. “Estamos muito mais confortáveis este ano do que no ano passado”, diz ao PÚBLICO José Pimenta Machado, engenheiro do Ambiente e vice-presidente da APA. Há um ano, o volume médio de água das albufeiras era de 60% da capacidade daqueles reservatórios. Agora, está nos 77%. “Estamos muito mais bem preparados para enfrentar o próximo Verão”, assegura o responsável.

Há exemplos evidentes desta melhoria. Na albufeira de Castelo de Bode, que alimenta diariamente a região de Lisboa com 500.000 metros cúbicos de água, o volume de água passou de 63%, a meio de Novembro, para 92%. No Alqueva, a cota de água subiu quatro metros.

Mas o cenário ainda é negativo em algumas regiões, como no Barlavento algarvio. A albufeira da Bravura, no concelho de Lagos, está apenas a 11% da sua capacidade. “Estranhamente, este ano choveu mais no Sotavento e menos no Barlavento”, refere José Pimenta Machado, que tem esperança que os meses de Inverno e Primavera melhorem a situação.

As mudanças trazidas pelas alterações climáticas obrigam a um olhar mais atento para o que está a acontecer em todo o território. Uma das ferramentas mais importantes para a APA são as estações hidrometeorológicas espalhadas pelo país. A agência conta com 301 estações hidrométricas, que medem as cotas e os caudais dos rios, e 616 estações meteorológicas, que aferem a precipitação, a velocidade e a direcção do vento, a evaporação, a radiação, a temperatura e a humidade.

Ao contrário do Instituto Português do Mar e do Ambiente (IPMA), que concentra as suas estações meteorológicas nos centros urbanos, a APA tem estações em locais como as nascentes dos rios. “A água entra nos rios e começa a acumular ali”, aponta Felisbina Quadrado. A informação dada por aquelas estações meteorológicas permite calcular a quantidade de água que vai chegar em diferentes pontos das bacias hidrográficas e saber se há risco de haver inundações.

Foto
A APA gere os recursos hídricos a partir da informação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), de outros institutos meteorológicos e das suas estações hidrometeorológicas

“As estações são os nossos olhos no território”, explica José Pimenta Machado. Mas há um problema: “Todas as semanas, duas estações são vandalizadas.” Quando acontecem fenómenos extremos, a falta desta informação pode colocar em risco a vida das populações. Anualmente, a APA gasta 1,2 milhões de euros na conservação e manutenção das estações. “Sem estações ficamos cegos, não conseguimos ver”, alerta o responsável.