Centrais solares na Beira Baixa ameaçam colónias de cegonha-branca e de águia-imperial-ibérica

Além da destruição do habitat destas espécies protegidas, a Quercus denuncia ainda impactos nas azinheiras e em exemplares de carvalho-negral.

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Os ninhos das cegonhas ficaram destruídos, denuncia Quercus Vasco Celio

A construção de centrais fotovoltaicas nos concelhos de Fundão e de Castelo Branco conduziu à destruição de áreas naturais que afectaram uma colónia de cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) num bosquete de carvalho-negral e uma zona de nidificação de um casal de águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), uma das espécies de águias mais ameaçadas do mundo. A denúncia foi feita pela organização ambientalista Quercus através de uma nota enviada na manhã desta quinta-feira ao PÚBLICO.

Os trabalhos executados para a instalação de uma das centrais solares, “junto da A23 no concelho do Fundão, num terreno propriedade da Santa Casa da Misericórdia local”, já destruíram um povoamento de carvalhal-negral (Quercus pyrenaica) habitat de uma colónia de cegonhas-brancas. A Quercus faz referência a um “historial de cortes do carvalhal e destruição de ninhos de cegonhas” e salienta que as obras “avançaram com mobilização de um terreno” onde se encontravam bosquetes de carvalhais galaico- portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica.

A operação decorreu sem que fosse instalado um aviso de licenciamento. A organização ambientalista diz que existe no ICNF “um pedido de corte de 40 carvalhos (os que restam) com 40 ninhos de cegonha-branca”.

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Em cima: azinheiras dispersas na zona onde habita o casal de águia-imperial-ibérica; em baixo: bosquetes de carvalhal devastados com destruição de ninhos de cegonhas, denuncia Quercus Quercus

Na freguesia e concelho de Castelo Branco, próximo do aeródromo, também foram arrasados vários exemplares de azinheiras, num habitat onde nidificava um casal de águia-imperial-ibérica. Restam apenas algumas azinheiras dispersas. O comunicado da Quercus acrescenta ter sido efectuada “recentemente uma mobilização do terreno com rebentamentos de afloramentos rochosos”.

A Quercus sublinha que alertou o ICNF “ao longo de meses e só embargaram a obra depois de tudo destruído e de chegarem a 50 metros do ninho da águia-imperial-ibérica”, que tem o estatuto “criticamente em perigo de extinção”.

A destruição de áreas com povoamentos mistos de azinheiras e sobreiros prossegue “sem que exista a devida fiscalização por parte das autoridades”, criticam os ambientalistas que já apresentaram queixa às autoridades, através da SOS Ambiente por danos contra a natureza.

Os projectos de centrais com menos de 50MW (megawatts) que se pretendam instalar fora das áreas protegidas e zonas especiais de conservação apenas carecem de licenciamento da Direcção-Geral de Energia e Geologia. No entanto, a Quercus garante que a decisão “não salvaguarda os impactes sobre a biodiversidade, ou o ordenamento do território”, para além de “violar a Directiva Aves da União Europeia”.