Uma spin-off da Universidade do Porto coordena um projecto que, financiado em quatro milhões de euros, visa produzir folículos capilares de humanos, pêlo de espécies em vias de extinção e lã para tornar a indústria da moda animal-free.
Em declarações à agência Lusa, o director executivo da spin-off Biofabics, Pedro Costa, esclareceu que o projecto, intitulado Furoid, pretende "eliminar o sacrifício dos animais, tornar a indústria da moda mais eficiente e animal-free".
Ao longo dos próximos cinco anos, o projecto tentará cumprir esse objectivo através da produção "em grande escala" de folículos capilares de humanos, de pêlo de espécies em vias de extinção e de lã de ovelha.
"A Biofabics irá focar-se na optimização da cultura celular automatizada, de modo a ser possível cultivar muitas células ao mesmo tempo, em ambientes controlados e ser possível obter tecidos muito semelhantes às peles, pêlos e lãs recolhidas normalmente de animais", afirmou Pedro Costa.
A Biofabics, spin-off graduada da UPTEC - Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, surgiu em 2017 e debruça-se, desde então, em duas tecnologias: biofabricação (impressão 3D, impressão de células e tecidos e bioimpressão) e biorreactores/sistemas de culturas celulares.
"Mais recentemente, temos focado o nosso trabalho num tipo específico de biorreactores, nomeadamente, em organ-on-a-chip", isto é, chips que simulam o ambiente em que se encontra um tecido ou órgão humano.
Esses chips vão servir de base ao trabalho desenvolvido pela spin-off portuguesa neste projecto, que receberá 700 mil euros dos quatro milhões financiados pela Comissão Europeia.
A par da Biofabics, o projecto, que arrancou em Novembro, conta com mais dois parceiros europeus (Holanda e República Checa). De acordo com Pedro Costa, o parceiro holandês debruça-se sobre a "manipulação genética de células" e o parceiro checo é especializado na "produção de membranas muito específicas onde é possível colocar estas células e fazê-las crescer, quase como tecido".
"A partir de biópsia dos animais produzimos uma grande quantidade de células de pele que, por sua vez, origina pêlo, como acontece naturalmente. A diferença é que, neste caso, isso acontece no laboratório, em incubadoras de grande dimensão, e sem o sofrimento ou morte dos animais", acrescentou o responsável.
À Lusa, Pedro Costa salientou ainda que o projecto vai tentar ultrapassar desafios "importantes", nomeadamente, a produção em grande escala e os custos de produção destes materiais. "Este método de geração de materiais nobres para a indústria da moda e têxtil torna-se muito mais interessante, eventualmente, até mais rápido e barato, e os animais agradecem", acrescentou.