Estudantes afegãs barradas à entrada das universidades: “Como podemos ter esperança?”
A ordem anunciada no dia anterior foi mesmo implementada, com os funcionários a impedirem as mulheres de porem um pé dentro das universidades.
As estudantes universitárias no Afeganistão foram mesmo impedidas de entrar nos campi, na quarta-feira, 21 de Dezembro, depois de a administração dirigida pelos taliban ter dito que as mulheres seriam proibidas de frequentar o ensino superior.
A decisão de barrar a entrada a mulheres foi anunciada na terça-feira à noite, numa carta enviada às universidades, pelo Ministério do Ensino Superior, o que suscitou condenações dos governos estrangeiros e das Nações Unidas.
"Chegámos à universidade e os taliban estavam à porta e disseram-nos 'não podem entrar na universidade até nova ordem' ... toda a gente chorava", diz Shaista, uma estudante de gestão numa universidade privada, em Cabul.
Um professor de outra universidade de Cabul, que se recusou a ser identificado, disse que os funcionários barraram a entrada de estudantes do sexo feminino, uma vez que não tinham outra alternativa senão implementar a proibição.
A exclusão das estudantes é passível de complicar os esforços dos taliban para obter reconhecimento internacional e libertarem-se de sanções que estão a dificultar gravemente a economia.
Hassiba, estudante de Ciências Políticas do terceiro ano, a viver em Cabul, disse que estava a estudar para os exames quando ouviu falar no anúncio. "É demasiado difícil de aceitar, é inacreditável, não posso acreditar que esteja a acontecer", disse. "Quando não há educação para as mulheres, como podemos ter esperança num futuro promissor?"
Vários funcionários taliban, incluindo o Ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros e porta-voz da administração, pronunciaram-se nos últimos meses a favor da educação feminina. O supremo líder espiritual taliban, sediado na cidade do sul de Kandahar, tem a última palavra sobre as grandes decisões.
"Esta decisão era esperada há semanas, levando alguns dirigentes ocidentais a começar a falar sobre sanções adicionais e mais restrições económicas", disse Graeme Smith, consultor sénior na organização sem fins-lucrativos International Crisis Group. "Mas o dilúvio de ultraje do Ocidente reforçará a determinação da liderança taliban, que se define a si própria como um bastião contra o mundo exterior."
Num comunicado, António Guterres, secretário-geral da ONU, disse estar "profundamente alarmado" com a proibição. "O secretário-geral reitera que a negação à educação não só viola a igualdade de direitos das mulheres e raparigas, como terá um impacto devastador para o futuro do país”, disse Stéphane Dujarric, porta-voz de Guterres citado pela Lusa.
No Afeganistão, a maioria das raparigas não consegue ir às aulas para além da escola primária. A administração taliban disse que está a trabalhar num plano para a educação secundária das raparigas, mas não deu um prazo para os objectivos.