Tensão diplomática entre Peru e México leva à expulsão de embaixador

O embaixador mexicano em Lima recebeu ultimato de 72 horas para deixar o país. Congresso peruano aprovou eleições antecipadas para 2024, como queria a actual Presidente, Dina Boluarte.

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Ana Cecilia Gervasi, ministra dos Negócios Estrangeiros do Peru SEBASTIAN CASTANEDA/Reuters

O Peru declarou o embaixador do México em Lima persona non grata e ordenou-lhe que saísse do país na quinta-feira, anunciou a ministra peruana dos Negócios Estrangeiros, na mais recente escalada de tensão entre as duas nações depois de o Peru ter destituído Pedro Castillo do cargo de Presidente.

A ordem abrupta, uma medida forte no mundo da diplomacia, deixou ao embaixador apenas 72 horas para sair do país.

A decisão do Governo do Peru aconteceu horas depois de o México ter anunciado que garantira exílio à família de Castillo, que enfrenta acusação de rebelião e está preso depois do que os seus críticos dizem ter sido uma tentativa de golpe a 7 de Dezembro.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Peru fez uma publicação nas redes sociais dizendo que a expulsão do embaixador do México, Pablo Monroy, se devia a “declarações repetidas das mais altas autoridades do país em relação à situação política no Peru”, uma referência pouco velada ao apoio que o Presidente do México tem dado a Castillo, que, tal como ele, é de esquerda, desde a sua destituição, aprovada por uma maioria esmagadora de deputados, e de seguida, a sua prisão.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do México comentou no Twitter na terça-feira à noite a expulsão de Monroy, caracterizando-a como “injustificável e repreensível”.

Na semana passada, o Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, criticou fortemente a deposição de Castillo, dizendo que não é democrática e que continua a reconhecer Castillo como o líder do Peru.

Numa conferência de imprensa durante o dia de ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros do México, Marcelo Ebrard, disse que o Governo estava a negociar uma passagem segura para a família de Castillo, que estava dentro da embaixada do México em Lima.

Ana Cecilia Gervasi, a ministra dos Negócios Estrangeiros do Peru, anunciou mais tarde que a passagem da mulher de Castillo e dos dois filhos do casal tinha sido aprovada formalmente.

Eleições antecipadas

Lilia Paredes, a mulher de Castillo, e os filhos chegaram entretanto ao México.

Na semana passada, o Governo do México e os executivos liderados pela esquerda da Argentina, Bolívia e Colômbia emitiram uma declaração conjunta declarando que Castillo é vítima de “assédio antidemocrático”.

Dias mais tarde, o Governo, que durava há uma semana, da Presidente Dina Boluarte, que foi vice-presidente de Castillo, mandou chamar os embaixadores do Peru para consultas sobre o que descreveu como interferência inaceitável nos assuntos internos do país.

Por outro lado, na terça-feira, o Parlamento aprovou um passo-chave na intenção de Boluarte ter eleições antecipadas, com 93 deputados a votar a favor e 30 contra. Segundo esta proposta, irão realizar-se eleições em Abril de 2024, dois anos antes da data prevista, em 2026.

Já nesta quarta-feira, a Presidente peruana indigitou o até agora ministro da Defesa, Alberto Otárola, como novo primeiro-ministro do país, no que é o segundo Executivo nomeado por Boluarte no espaço de duas semanas, após a destituição e detenção de Castillo.

Pouco depois da sua tentativa de dissolver o Congresso, o próprio Castillo tentou chegar à embaixada mexicana, mas foi detido pela polícia antes de lá chegar.

Ainda na terça-feira, um tribunal peruano recusou um pedido de procuradores para proibir a mulher de Castillo de sair do país. Lilia Paredes está a ser investigada por alegado envolvimento numa rede de lavagem de dinheiro que poderia implicar também Castillo.

“O México está a dar refúgio a corruptos”, declarou a deputada da oposição María del Carmen Alva a jornalistas na terça-feira.

López Obrador tem dito frequentemente que o seu Governo não defende intervenção nas questões internas de outros países, mas tem-se desviado desse princípio quando se trata de presumíveis aliados ideológicos na América Latina.

Castillo vai continuar preso enquanto aguarda julgamento, que deverá começar daqui a 18 meses, depois de um conjunto de juízes ter aprovado o pedido dos procuradores para extensão enquanto investigam as acusações de rebelião e conspiração contra o antigo professor e sindicalista que no ano passado venceu, por margem curta, uma eleição concorrendo por um partido marxista. Reuters

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