Os protestos no futebol iraniano chegaram à simulação de um enforcamento

O Irão está a passar por uma onda de protestos desde Setembro e os seus futebolistas não são imunes a esta vaga, o que já resultou em ameaças e detenções. O clima é cada vez mais tenso.

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Meysam Tohidaste e o gesto de protesto a simular um enforcamento DR
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Vários jogadores iranianos já sofreram represálias por participarem em protestos pelos direitos civis. Reuters/KAI PFAFFENBACH

Um jogo da liga iraniana não costuma ser noticiado na maior parte do resto do mundo, mas no duelo entre o Nassaji Mazandaran e o Sanat Naft Abadan (0-2), o "festejo" do jogador que marcou o último golo dos visitantes tornou-se notícia em grande parte do planeta. Depois do remate certeiro, Meysam Tohidaste passou uma mão pelo pescoço e depois acima da cabeça, simulando um enforcamento.

Foi mais um protesto feito contra as execuções promovidas pelo governo iraniano, em resposta às contínuas manifestações pelos direitos civis e das mulheres no país na sequência da morte, em Setembro, de Masha Amini. Este, em particular, fez referência ao facto de manifestantes estarem a ser condenados à morte por enforcamento.

Um dos condenados é precisamente outro futebolista, Amir Nasr-Azadani, que actua num clube da terceira divisão do país. O jogador de 26 anos terá participado numa manifestação pelos direitos das mulheres que resultou na morte de três agentes de segurança, sendo acusado, não só do assassinato, mas também de pertencer a um grupo armado que terá cometido o crime.

O IranWire, um órgão de comunicação iraniano, reportou que Nasr-Azadani participou em diferentes protestos de apoio aos direitos das mulheres, mas que nem esteve presente naquele que vitimizou os três agentes de segurança. A onda em seu apoio já chegou à cantora Shakira, que lembrou a sua história no dia da final do Mundial 2022.

Já a FIFPro (organização que luta pelos direitos de jogadores de futebol no mundo) criticou ferozmente essa acusação e pediu que a execução fosse cancelada.

Início em Masha Amini

A onda de protestos começou após a morte de Masha Amini em Setembro. A jovem de 21 anos foi acusada de usar incorrectamente o “hijab”, sendo por isso presa e depois morta pela polícia iraniana da moralidade.

Desde então, após três meses de protestos, já foram centenas as pessoas que perderam as suas vidas durante os mesmos. Segundo a Amnistia Internacional, de momento, 18 pessoas estão em risco de serem executadas devido à sua participação nestes protestos.

Quem também já esteve detido pelas forças iranianas foi o antigo jogador Ali Daei, o segundo melhor marcador internacional de sempre ao serviço de uma selecção (com 109 golos, atrás de Cristiano Ronaldo).

No Mundial 2022 também os jogadores da selecção iraniana protagonizaram um gesto que foi interpretado como (mais) um protesto contra o governo iraniano. No seu encontro de estreia na competição, frente à Inglaterra,​ os jogadores do Irão não cantaram o hino do seu país. A atitude, corajosa, mas que levou a reacções de desagrado por parte dos responsáveis iranianos.

“Não vamos tolerar que ninguém insulte o nosso hino”; palavras de Mehdi Chamran, presidente do concelho municipal de Teerão, citado pelo The Guardian, no dia após esse gesto. No jogo seguinte do Irão, com o País de Gales, os jogadores cantaram o hino, ainda de forma pouco entusiasmada e mais tarde, foi mesmo reportado que as suas famílias haviam sido ameaçadas de prisão e de tortura pelo governo do Irão.

Texto editado por Jorge Miguel Matias

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