Entrave na adesão da Suécia à NATO: justiça bloqueia extradição de jornalista turco

Ancara diz que decisão do Supremo Tribunal sueco de não extraditar Bulent Kenes complica ratificação da entrada do país nórdico na Aliança Atlântica.

Foto
Governo turco diz que Bulent Kenes é membro do Movimento Gulen, organização que acusa de ter orquestrado uma tentativa de golpe em 2016 Reuters/TT NEWS AGENCY

A decisão do Supremo Tribunal da Suécia de bloquear a extradição do jornalista turco Bulent Kenes é um desenvolvimento “muito negativo”, disse esta terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, numa altura em que Estocolmo procura a aprovação de Ancara para ratificar a adesão à NATO.

No mês passado, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, colocou a extradição de Kenes como condição para aprovar a entrada da Suécia na Aliança Atlântica. O Governo turco alega que o jornalista é membro do Movimento Gulen, organização que acusa de ter orquestrado uma tentativa de golpe em 2016. Fethullah Gulen, o seu inspirador, vive exilado nos Estados Unidos desde 1999.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Suécia já informou que está obrigado a agir de acordo com a decisão do Supremo Tribunal.

“Não podemos especular sobre o possível impacto que isto terá na adesão à NATO”, disse o chefe da diplomacia turca em conferência de imprensa. “O Governo da Suécia deve seguir a lei sueca e internacional quando se trata de questões de extradição, o que também ficou claro no acordo trilateral”, acrescentou Cavusoglu.

A Finlândia e a Suécia pediram formalmente para aderir à NATO em Maio, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, colocando um ponto final em décadas de neutralidade, mas as suas candidaturas exigem a aprovação de todos os 30 Estados-membros da NATO, incluindo a Turquia.

Em Junho, Suécia e Finlândia concordaram em adoptar uma série de medidas para desbloquear as objecções da Turquia, assinando um acordo trilateral.

Uma das exigências de Ancara era que a Suécia e a Finlândia extraditassem suspeitos procurados pela Turquia por acusações relacionadas com terrorismo, embora os dois países nórdicos tenham dito que não concordavam com extradições específicas e que todos os pedidos seriam tratados de acordo com a lei doméstica e internacional.

Aos jornalistas, Cavusoglu afirmou que a extradição por parte da Suécia, no início deste mês, de um homem suspeito de pertencer a um grupo insurgente curdo é insuficiente para obter a aprovação da Turquia.

“Se eles acham que basta devolver uma pessoa e depois encerrar o caso, isso não é realista”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros turco.

“Não queremos ouvir apenas palavras da Suécia e da Finlândia, queremos ver passos concretos”, acrescentou.

O Governo de Erdogan quer também que tanto a Suécia como a Finlândia reconheçam os combatentes curdos sírios como aliados do banido PKK, que trava uma insurgência de décadas contra o Estado turco.

No mês passado, em Ancara, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, disse a Erdogan que Estocolmo “cumprirá todas as obrigações feitas à Turquia no combate à ameaça terrorista”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários