Cineasta Asghar Farhadi exige libertação da actriz iraniana Taraneh Alidoosti

Coro de protestos contra a detenção da conhecida intérprete iraniana sobe de tom, com o conceituado realizador a juntar-se aos festivais de Cannes e Toronto ou ao Centre for Human Rights in Iran.

Foto
Taraneh Alidoosti em Cannes em Maio deste ano GUILLAUME HORCAJUELO/EPA

O realizador iraniano Asghar Farhadi, um dos maiores nomes do cinema do país e um crítico do seu regime, juntou-se ao coro de protestos contra a detenção da actriz Taraneh Alidoosti exigindo "a sua libertação bem como a dos cineastas Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof e de todos os outros prisioneiros menos conhecidos cujo único crime é tentar uma vida melhor".

Numa intervenção na sua conta na rede social Instagram, Farhadi defendeu assim a actriz do seu filme O Vendedor (2016), detida sob acusações de propagação de informações falsas sobre os protestos dos últimos meses no Irão. Segundo a agência noticiosa IRNA, Alidoosti foi detida uma semana depois de ter publicado uma mensagem no Instagram a manifestar o seu apoio ao primeiro homem a ser executado pelo regime por causa do envolvimento nos protestos que desde Setembro inflamam o país.

“O nome dele era Mohsen Shekari. Todas as organizações internacionais que estão a assistir a este banho de sangue e que não estão a tomar medidas são uma desgraça para a humanidade”, escreveu Alidoosti no Instagram, motivando assim a sua detenção. Shekari foi morto no dia 9, executado depois de ser acusado de bloquear uma rua em Teerão e de ter atacado, segundo as autoridades, um membro das forças de segurança.

A sua morte foi um novo momento dramático na sucessão de protestos que desde 16 de Setembro ocorrem no Irão depois de a jovem Mahsa Amini ter morrido três dias após ter sido detida pela polícia da moralidade, acusada de violar o código de vestuário das mulheres da República Islâmica do Irão.

Desde então, os protestos públicos e nas redes sociais têm-se sucedido, a par de centenas de mortes e milhares de detenções. Algumas figuras mais conhecidas do sector artístico iraniano juntaram-se às vozes contestatárias que pedem mais liberdade no país. Em Julho, o realizador iraniano Mohammad Rasoulof foi detido com Mostafa Al-Ahmad por ter feito críticas à violência usada na repressão de protestos de cidadãos iranianos após um desmoronamento de um edifício em que morreram dezenas de pessoas; no mesmo mês, Jafar Panahi foi detido depois de ter ido ao gabinete do procurador público indagar sobre a prisão de Rasoulof e Al-Ahmad, tendo mais tarde sido condenado a uma pena de prisão que estava suspensa há anos. Panahi e Rasoulof ainda estão presos.

A detenção de Alidoosti, cujo mais recente filme Os Irmãos de Leila, do também iraniano Saeed Roustayi (A Lei de Teerão), está em exibição nos cinemas portugueses, motivou uma declaração de Farhadi em seu apoio em que sublinha que "se mostrar apoio é crime, então dezenas de milhões de pessoas nesta terra são criminosos". Além das detenções supracitadas, outro tipo de punições tem sido exercido pelas autoridades contra figuras públicas que se tenham manifestado contra a repressão do regime — o realizador Mani Haghighi viu o seu passaporte confiscado no aeroporto em Outubro, quando tentava embarcar para assistir à estreia do seu novo filme no Festival de Cinema de Londres, por exemplo.

Farhadi tem dois Óscares e fez quatro filmes com Taraneh Alidoosti. O grupo pop Pet Shop Boys, os festivais de Cannes e Toronto ou o Centre for Human Rights in Iran pediram já também publicamente a libertação da actriz de 38 anos e criticaram a repressão do regime de Teerão. Mundo fora, têm-se realizado protestos sob a forma de cordões humanos ou cortes simbólicos de madeixas de cabelo para evocar solidariedade com os manifestantes e mulheres iranianas.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários