E, ao 40.º livro, Astérix vai ter um novo autor

Aventuras serão retomadas em 2023 pelo escritor francês Fabrice Caro (Fabcaro), um sátiro que cresceu como fã dos irredutíveis gauleses. Didier Conrad continua a ser o ilustrador.

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As famosas personagens Astérix e Obélix daniel rocha
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Jean-Yves Ferri e Didier Conrad em Portugal em 2017 Rui Gaudêncio

E, ao 40.º livro, Astérix e os gauleses vão contar com um novo argumentista. O romancista e autor de banda desenhada Fabcaro substitui Jean-Yves Ferri, que escrevia as aventuras dos irredutíveis gauleses desde 2013, anunciou esta terça-feira a editora desta incontornável BD francesa, a Albert René. As ilustrações manter-se-ão a cargo de Didier Conrad.

Fabcaro tornar-se-á assim o quarto autor de Astérix, sucedendo a Goscinny, a Uderzo (que assinou e desenhou oito álbuns sozinho após a morte precoce de Goscinny) e a Jean-Yves Ferri.

O primeiro álbum escrito por Fabcaro será editado a 26 de Outubro de 2023, confirmou ainda a editora, cumprindo a tradição de lançar novos livros de Astérix, Obélix e companhia naquele mês e em anos ímpares. “Um estranho estado de espírito parece ter tomado conta dos habitantes da aldeia, para grande consternação de Astérix e Obélix”, antecipa a editora no seu brevíssimo comunicado e num post na rede social Facebook sobre o que será o tema da próxima história.

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Éditions Albert René

As edições Albert René partilharam ainda uma prancha-teaser para revelar o que se passa agora na aldeia dos personagens criados por Albert Uderzo e René Goscinny em 1959. Há um javali fumegante, um Obélix voraz e uma espécie de desfile de personagens bem conhecidas, como Falbala, Bonemine (Cara Bela), Automatix ou Ordralfabetix, frente à sua mesa.

Fabcaro, um autor conhecido pelo humor a roçar o absurdo, junta-se agora a uma histórica série de BD à qual é atribuído o crédito de ter contribuído para elevar o papel do argumentista nos comics. Juntamente com Jean-Michel Charlier, deve-se a Goscinny "o reconhecimento da função do argumentista na BD belga — é um paradoxo, porque isso já era reconhecido em França”, comentava em 2007 ao PÚBLICO o crítico francês de BD Laurent Mélikian.

O novo autor de Astérix, de seu verdadeiro nome Fabrice Caro, tem vários livros disponíveis em Portugal, nomeadamente um dos seus mais famosos tomos, Zaï zaï zaï zaï (2015) que deu origem a um filme homónimo em 2020. Mas todos se encontram na versão original, francesa, ou nalgumas edições em inglês, não estando traduzida a sua obra traduzida em português, segundo os registos da Biblioteca Nacional.

Fabcaro tem 49 anos e segundo o diário francês Le Figaro “é conhecido pelas suas sátiras” da sociedade francesa. “Sou um grande fã de Astérix. É um grande presente para a criança que eu era”, disse esta terça-feira à agência AFP, congratulando-se pelo convite que lhe foi feito. “Quero manter-me fiel ao caderno de encargos — mesmo que a expressão não seja muito bonita — ou, em todo caso, ao que torna Astérix tão charmoso. Com ingredientes clássicos, como os anacronismos, os trocadilhos”, disse ainda. “E sobretudo, ser fiel aos personagens”, prometeu o autor de Steak it Easy ou Formica.

Do lado da editora e dos responsáveis pelo legado de Uderzo e Goscinny, os elogios ao trabalho anterior de Fabcaro são os expectáveis, com Anne Goscinny, filha do falecido autor, a elogiar a sinopse que o novo argumentista de Astérix sugeriu. “Primeiro porque era engraçada e eficaz, depois porque me parecia extremamente fiel aos códigos que o meu pai usou e estabeleceu.”

De acordo com Fabcaro e com a imprensa francesa, terá sido Ferri que pediu para sair para se dedicar a outros projectos. Assinou quatro álbuns de Astérix, o último dos quais, Astérix e o Grifo (2021), foi descrito pelo PÚBLICO como “uma fórmula de receitas que perverte a obra de René Goscinny e Albert Uderzo”.

O escritor René Goscinny morreu de enfarte a 5 de Novembro de 1977, com 51 anos, após ter feito uma prova de esforço. Na altura, contou Uderzo ao PÚBLICO em 2005, “todos os órgãos de comunicação — sem excepção — decretaram a morte de Astérix”. “Fui-me abaixo e estive dois anos sem me apetecer fazer nada. Cheguei a pensar que Astérix estava morto e que não valia a pena continuar sem Goscinny”, recordava. Voltaria, porém, e com vontade de afirmar a importância do seu próprio trabalho. “O meu amor-próprio e o meu orgulho ficaram espicaçados e, por isso, decidi arriscar: regressei a Paris para continuar a série.”

O ilustrador francês Albert Uderzo morreu aos 92 anos, a 24 de Março de 2020, durante o sono e após uma crise cardíaca. Ao PÚBLICO, 15 anos antes, tinha sido taxativo: “Há uma coisa que respondo a todos os que me perguntam o que vai acontecer depois da minha morte: Astérix não voltará a existir na banda desenhada. Poderão ser feitos filmes, ser editados álbuns, ser concedidas licenças, etc., mas não me agrada a ideia de que o personagem pudesse ser deformado completamente por quem viesse a pegar nele.”

E no entanto a nova versão de Astérix, já no segundo par de mãos desde a morte dos dois criadores originais, será conhecida em 2023.

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