Apesar das polémicas, Ramaphosa foi reconduzido como líder do ANC

Conferência do principal partido sul-africano ficou marcada pela contestação ao actual Presidente, sobre o qual pesam suspeitas de corrupção.

Foto
Ramaphosa tem o caminho aberto para ser candidato à presidência em 2024 KIM LUDBROOK/EPA

O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi reeleito líder do Congresso Nacional Africano (ANC), abrindo caminho para que seja o candidato às eleições presidenciais de 2024 pelo partido que está no poder desde o fim do apartheid. A escolha aconteceu num contexto de enorme turbulência para Ramaphosa, que se viu envolvido num alegado esquema de corrupção.

Ramaphosa enfrentava a candidatura do ex-ministro da Saúde, Zweli Mkhize, derrotando-o por 2476 votos, contra 1897 entre os delegados partidários que se reuniram durante o fim-de-semana em Joanesburgo.

Assim que a vitória de Ramaphosa foi anunciada, o salão onde decorria a conferência do ANC encheu-se de gritos de apoio, aplausos e danças. O ambiente de entusiasmo contrastou com a recepção gélida dada ao discurso de abertura do Presidente sul-africano na sexta-feira, quando se ouviram assobios e gritos de “Fora Ramaphosa” por parte de alguns opositores internos do líder.

O favoritismo de Ramaphosa para que vencesse a disputa partidária chegou a estar em causa com a recolha de apoios de última hora por parte de Mkhize, mas a lealdade ao líder acabou por imperar.

A contestação ao Presidente sul-africano eleito em 2019 surgiu depois de terem vindo a público as suspeitas de que teria escondido dinheiro em sua casa, aparentemente para tentar ocultar a sua proveniência. O caso conhecido como “Farmgate”​ motivou a abertura de um inquérito parlamentar que concluiu haver indícios suficientes para que fossem iniciados os procedimentos para um impeachment.

No entanto, a direcção do ANC, partido que detém a maioria no Parlamento, deu instruções à bancada parlamentar para chumbar as conclusões da comissão de inquérito.

Em causa estão as denúncias de que Ramaphosa teria escondido cerca de 580 mil dólares (550 mil euros) num sofá na sua quinta de caça. O dinheiro, segundo o Presidente, teria sido o pagamento pela venda de búfalos a um empresário sudanês, mas o painel de investigação disse ter muitas dúvidas sobre a veracidade deste negócio.

A propriedade de Ramaphosa acabou por ser assaltada e o dinheiro escondido foi roubado, mas o Presidente não participou o crime às autoridades, o que tem reforçado as suspeitas de que teria havido uma tentativa para ocultar a proveniência do montante.

Ramaphosa tem negado todas as acusações e pediu à justiça que anule todas as conclusões do painel parlamentar.

O caso tem uma particular ressonância na África do Sul, uma vez que Ramaphosa chegou à presidência com a promessa de governar de forma limpa e honesta. O seu antecessor, Jacob Zuma, que governou o país durante uma década, está implicado em vários casos de corrupção que precipitaram a sua saída da presidência. Pelo caminho, o próprio estatuto do ANC como partido dominante — está no poder na África do Sul desde o fim do apartheid e possui um legado simbólico pela luta contra o regime de opressão — ficou seriamente afectado.

Mkhize, que concorreu contra Ramaphosa, também tem o seu nome envolvido em suspeitas de corrupção. Foi demitido durante a pandemia da covid-19 depois de serem conhecidas suspeitas de que o Ministério da Saúde estava a conceder contratos públicos a uma empresa de comunicação detida por um antigo sócio. O ex-ministro rejeita todas as acusações de favorecimento.

O ANC espera vencer as eleições legislativas de 2024 — o Presidente é escolhido de forma indirecta na África do Sul — e manter-se no poder, mas as sondagens mostram que, embora permaneça favorito, o partido deverá continuar a perder votos e corre o risco de não ter a maioria no Parlamento.

Na conferência electiva, Ramaphosa conseguiu eleger vários aliados para cargos importantes na estrutura partidária, mas não logrou ver eleito para vice-líder o seu candidato preferido. O novo “número dois” do ANC é Paul Masahtile, que passa a ser também o provável candidato a vice-presidente em 2024.

Sugerir correcção
Comentar