Carvão para meninos marotos no Natal? O ambiente é contra

Em alguns países, é tradição colocar pedaços de carvão nas meias natalícias dos meninos malcomportados. Mas um texto publicado numa revista científica diz ser hora de acabarmos com essa tradição.

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A queima de carvão afecta a crise climática, referem as autoras do texto publicado na revista The BMJ Ryan McVay/Getty Images

Aqui em Portugal não é propriamente uma tradição, mas, em alguns cantos do mundo, a “prenda” que vai parar às meias natalícias dos meninos malcomportados pode ser um (pouco festivo) monte de pedaços de carvão. É uma espécie de castigo (ainda que, muitas vezes, não passe de uma brincadeira) para quem passa o ano a ser mais desordeiro do que o recomendado. Mas, à luz da crise do clima, faz sentido este castigo persistir? Num texto publicado esta segunda-feira na edição natalícia da revista científica The BMJ, a pediatra Tamsin Holland Brown e as suas filhas Lilac e Marigold defendem que está na hora de pormos um fim a esta tradição “datada e potencialmente prejudicial”.

As autoras apontam que, ao mesmo tempo que a queima de carvão agrava a crise climática, o impacto desta rocha na qualidade do ar pode afectar a saúde das crianças.

Tamsin Holland Brown e as suas filhas argumentam também que receber a punição de um pedaço de carvão no Natal pode ser danoso para a saúde mental das crianças. Há outras formas mais eficazes de mostrar às crianças que não estamos contentes com o seu comportamento. Numa altura em que vivemos a braços com uma crise global criada pela pandemia e agravada pela guerra na Ucrânia, outros gestos mais carinhosos podem, potencialmente, “combater a ansiedade” melhor do que um pedaço de carvão, defendem.

O texto publicado na The BMJ defende que a reacção ao comportamento tendencialmente considerado como “mau” pode ser diferente e mais interessante. Aqui, as autoras inspiram-se na activista sueca Greta Thunberg, defensora da ideia de que as crianças não conseguem “salvar o mundo” ao “jogar de acordo com as regras”. Assim, Tamsin Holland Brown e as filhas Lilac e Marigold sugerem prendas recicladas e passeios na natureza, por exemplo, como alternativas ao carvão.

Um passeio no parque está longe de ser um castigo, mas ao mesmo tempo não é uma cedência aos caprichos mais comerciais e à longa lista de brinquedos pedidos pelos mais pequenos que se portam menos bem. Ou, talvez, bastará apenas não dar tudo o que pedem e que esperam receber.

Lilac e Marigold, que no texto referem que, em 2019, faltaram às aulas para estarem presentes numa marcha climática, concluem que, dado o impacto negativo da queima de carvão no planeta, os adultos que no Natal dão carvão às crianças “é que estão a portar-se mal”.