Filhos de Bolsonaro assumem tarefas distintas para manter bolsonarismo vivo

Filhos do Presidente serão importantes para manter influência da família depois de Jair Bolsonaro ser substituído por Lula da Silva.

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Flávio Bolsonaro será o principal canal de diálogo entre o pai e a base bolsonarista no Congresso Reuters/Adriano Machado

Com Jair Bolsonaro dando sinais dúbios sobre o futuro após deixar a Presidência da República, os seus aliados articulam e defendem que seus filhos devem ter um papel fundamental para manter o apelido e o movimento bolsonarista relevantes no universo político.

Os aliados avaliam que o primogénito, o senador Flávio Bolsonaro, será o principal canal de diálogo entre o seu pai e a base bolsonarista no Congresso, além de se tornar uma referência na oposição ao futuro governo do Partido dos Trabalhadores (PT).

Os seus irmãos, por outro lado, devem actuar para manter Bolsonaro conectado com a direita internacional e com a ala mais radical da militância no Brasil.

A expectativa é a de que o deputado federal Eduardo Bolsonaro mantenha a interlocução com líderes da direita de outros países, enquanto o vereador Carlos se mantém como mentor das redes sociais bolsonaristas.

Jair Bolsonaro tornou-se o primeiro Presidente da era democrática a ser derrotado na corrida à reeleição, mas conseguiu eleger bastantes apoiantes no Congresso Nacional, além de colocar aliados no comando de alguns dos estados mais importantes do Brasil.

Analistas políticos e pessoas próximas a Bolsonaro avaliam que uma das dificuldades será manter fidelizados os 58,2 milhões de eleitores que votaram nele e garantir vigor ao movimento bolsonarista, dentro e fora do mundo político, estando o ainda Presidente sem cargo público.

Bolsonaro deverá manter-se em Brasília, a partir de Janeiro, e ficar perto das instituições e das principais discussões políticas. O Partido Liberal (PL) deve pagar-lhe um salário de 39,2 mil reais (quase sete mil euros), além de alugar uma mansão num condomínio fechado e de o nomear presidente honorário.

Estima-se que permanecerá activo nas redes sociais, mantendo, assim, a proximidade com boa parte dos seus apoiantes.

A avaliação dos seus aliados é a de que caberá a seus filhos levar a cabo o confronto político diário, cerrando fileiras na oposição ao Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com espaço nas tribunas do Congresso Nacional, aparecendo com mais frequência nos noticiários.

Flávio ganhará protagonismo na representação institucional no Parlamento. Embora menos popular que os seus irmãos nas redes sociais, deve ser o grande responsável por manter o apelido em destaque, por ter mais experiência no mundo político e maior capacidade de articulação. O filho mais velho de Bolsonaro foi o coordenador da campanha presidencial do pai.

Além disso, Flávio tem mandato até 2026 no Senado – a câmara alta legislativa que deve ser a pedra no sapato do futuro Governo Lula, uma espécie de “bunker bolsonarista”, dado o grande crescimento dos partidos aliados nas eleições.

Bolsonaro ajudou o PL a eleger a maior bancada, garantindo a eleição de políticos mais identificados com o bolsonarismo, não só dentro do partido, mas em forças aliadas.

A expectativa é a de que Flávio desempenhe uma actuação semelhante à que tinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, como deputado estadual, quando era mais activo na tribuna e aparecia mais na imprensa. Como senador, ele manteve uma postura mais discreta nos seus primeiros quatro anos de mandato, para evitar contratempos que prejudicassem a gestão do pai.

Além disso, submergiu após as denúncias de que liderava um esquema de “rachadinha” no seu gabinete quando era deputado no Rio de Janeiro.

O caminho para Flávio pode, no entanto, enfrentar concorrência, mesmo dentro do próprio partido. O senador ainda não deixou claro se a figura de liderança que almeja significa ocupar o cargo formal de líder da oposição. Esse posto vem sendo cobiçado e alvo de articulação por outros membros da bancada do PL. Um deles é o actual líder do governo no Senado, Carlos Portinho.

A expectativa em relação a seus irmãos é bem diferente. Eduardo Bolsonaro foi reeleito, mas não obteve o mesmo destaque de eleições anteriores, perdendo um milhão de votos. Além disso, há a avaliação de que não se mostrou hábil para articulações na Câmara, como Flávio foi no Senado.

Por isso, aliados acreditam que o seu papel será diferente. O terceiro filho do Presidente deverá intensificar sua actuação para que ele e o pai sejam referências da direita mundial, em particular na América Latina. Os próximos anos serão dedicados a viagens ao exterior, com foco especial nos Estados Unidos, onde o republicano Donald Trump procura ressurgir depois de, tal como Bolsonaro, ter sido derrotado na sua tentativa de reeleição.

A aliança com o trumpismo e seus ideólogos, como Steve Bannon, é uma das apostas para um eventual regresso ao poder em 2027. Segundo esta teste, caso Trump seja vencedor em 2024, poderia haver uma nova onda conservadora no mundo, influenciando o cenário político brasileiro.

Já o papel político a ser desempenhado por Carlos Bolsonaro é menos explícito. Ele deverá manter-se como um dos principais conselheiros do pai, responsável pelas redes sociais de Jair Bolsonaro – que são o principal meio de comunicação do Presidente com seus apoiadores.

Dessa forma, Carlos é visto como um “defensor do legado” do pai, em particular para os seus militantes. Ao contrário dos outros irmãos, Carlos terá um desafio eleitoral já em 2024, quando terminar o seu mandato de vereador.

Embora sua reeleição não seja considerada difícil, alguns avaliam que a votação será um indicativo antecipado da força bolsonarista. Por isso, há até mesmo a possibilidade de ele não concorrer, para a disputar uma vaga nas eleições de 2026.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo

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