Presidente interina do Peru não se demite e pede eleições ao Congresso
Dois ministros apresentaram a demissão por causa das mortes de manifestantes. Pelo menos 22 pessoas morreram em confrontos contra a destituição e detenção do ex-Presidente Castillo.
A Presidente interina do Peru, Dina Boluarte, fez este sábado um apelo ao Congresso para que aprove a marcação de eleições antecipadas e prometeu mudanças no seu Governo na sequência de duas demissões.
Na sexta-feira foi chumbada, no Congresso, uma proposta de lei para antecipar as eleições presidenciais para Dezembro do próximo ano.
“Peço que a votação para antecipar as eleições seja reconsiderada”, declarou Boluarte numa conferência de imprensa este sábado. A Presidente interina também disse que a sua demissão – uma exigência dos manifestantes que estão a paralisar o país – “não iria resolver o problema” criado pela destituição de Pedro Castillo.
Boluarte também prometeu anunciar durante os próximos dias uma “remodelação do Governo”, depois das saídas de dois dos seus ministros.
A pressão sobre o frágil Governo do Peru intensificou-se ainda mais na sexta-feira depois de dois ministros terem apresentado a demissão, justificando a decisão com as mortes ocorridas durante os protestos que abalam o país sul-americano desde a destituição e detenção de Castillo, na semana passada.
“Apresentei esta manhã a minha carta de renúncia ao cargo de ministra de Estado com a pasta da Educação. A morte de compatriotas não tem justificação. A violência de Estado não pode ser desproporcional e causadora de morte”, anunciou Patricia Correa, no Twitter.
Esta mañana he presentado mi carta de renuncia al cargo de Ministra de Estado en la cartera de educación. La muerte de connacionales no tiene justificación alguna. La violencia de Estado no puede ser desproporcionada y generadora de muerte. #NoMasMuerte pic.twitter.com/0qoZisc9Yc
— Patricia Correa (@correapatricia) December 16, 2022
“Apresentei hoje [sexta-feira] a minha demissão irrevogável. O Peru precisa de paz e de diálogo efectivo, e não de mais violência, venha de onde venha. Peço ao mais alto nível e a todos os poderes que reflictam e que tomem decisões para trazer a paz ao povo peruano. Nem mais uma morte”, escreveu, por sua vez, Jair Perez, também no Twitter, na hora de abdicar do cargo de ministro da Cultura.
Segundo o último balanço das autoridades peruanas, os confrontos entre apoiantes de Castillo e as forças de segurança já fizeram pelo menos 22 mortos. O Governo já decretou estado de emergência em todo o território nacional e impôs recolher obrigatório em 15 províncias, incluindo nas cidades de Arequipa e Cuzco.
Os manifestantes exigem a convocatória de eleições antecipadas, o encerramento do Congresso e a demissão da sucessora de Boluarte.
O antigo Presidente é acusado de rebelião e conspiração por ter anunciado a dissolução do Parlamento peruano horas antes de este votar o seu terceiro impeachment em ano e meio.
Castillo pretendia liderar um “Governo de excepção”, que administraria o país através de decretos-lei, e convocar eleições para uma nova assembleia com poderes de alterar a Constituição do país.
Vai permanecer detido preventivamente até Junho de 2024 e pode ser condenado a uma pena de dez anos de prisão.
A par de toda a instabilidade social e política no Peru, há cada vez mais dúvidas sobre a capacidade de Boluarte para manter um Governo estável e duradouro, e as demissões de sexta-feira só agravam esse cenário.
Nesse mesmo dia, o Conselho de Estado peruano – que junta representantes dos vários poderes do país e da Igreja – esteve reunido durante mais de três horas, em Lima, em busca de uma solução para por fim à instabilidade, mas não chegou a nenhuma conclusão.