Para melhor compreender a forma como as flores evoluem, um grupo de investigadores do Canadá está a recorrer a modelos 3D, uma técnica normalmente usada por geógrafos na reconstrução de paisagens. Assim, tornaram possível ver plantas em três dimensões e a cores, com maior detalhe do que seria possível observar a olho nu.
É a primeira vez que a fotogrametria – que permite a construção de modelos tridimensionais a partir da sobreposição de fotografias – é usada para estudar flores. De acordo com os cientistas das universidades de McGill, de Montreal e do Jardim Botânico de Montreal, esta tecnologia tem o potencial de melhorar a produção científica sobre a ecomorfologia de flores e de outras plantas. Estas bases de dados com modelos 3D, tal como a criada pela equipa, podem dar aos cientistas e ao público em geral uma forma de finalmente ver as características únicas, anteriormente escondidas, das várias espécies de plantas.
O grupo de investigadores começou por estudar as plantas do Jardim Botânico de Montreal pertencentes à família Gesneriaceae, entre as quais está a violeta-africana, e publicou os resultados na revista científica New Phytologist.
“A variedade de formas e cores vista no mundo das plantas é difícil de capturar com uma simples fotografia. É por isso que me interessei em adaptar ferramentas tecnológicas para capturar a forma de flores”, conta o professor Daniel Schoen, da Universidade de McGill, que teve a ideia de aplicar fotogrametria ao estudo das plantas, citado em comunicado.
Formas e cores mais acessíveis
As formas e cores das flores são o principal elemento para atrair seres polinizadores, como as abelhas. Há 91% das plantas com flor que recorrem a este processo que, apesar de acontecer numa realidade a três dimensões, é raramente estudado neste contexto, notam os investigadores.
O preço é uma das vantagens: alguns métodos utilizados anteriormente, como a microtomografia de raios-X (que usa os raios-X para formar imagens bidimensionais ou tridimensionais sem cor), são mais caros e menos acessíveis do que a fotogrametria.
"A fotogrametria é muito mais acessível, uma vez que é barata, requer pouco equipamento especializado e pode mesmo ser utilizada directamente na natureza", afirma Marion Leménager, estudante de doutoramento em ciências biológicas na Universidade de Montreal e principal autora do estudo. "Além disso, tem a vantagem de reproduzir as cores das flores, o que não é possível com métodos que utilizam raios-X”, acrescenta, sublinhando que o método ainda não foi aperfeiçoado e há partes das flores que são difíceis de reconstruir, como superfícies reflectoras, transparentes ou com textura de pêlo.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva