Partido Trabalhista britânico vence mais uma eleição intercalar

Depois da vitória em Chester no início do mês, Labour obtém perto de 70% dos votos em Stretford e Urmston. Apesar de esperado, resultado põe ainda mais pressão sobre Sunak, em plena vaga de greves.

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Keir Starmer, líder do Labour, diz que "as pessoas estão fartas de 12 anos de falhanço” dos conservadores Peter Nicholls/Reuters

Mais uma eleição intercalar, mais uma vitória confortável do Partido Trabalhista. Cerca de duas semanas depois de ter obtido o seu melhor resultado de sempre na by-election de Chester, o maior partido de oposição do Reino Unido roçou os 70% na votação de quinta-feira em Stretford e Urmston, um círculo eleitoral localizado na zona Sudoeste de Manchester, no Norte de Inglaterra.

Apesar de esperada, mesmo tendo em conta as condições climatéricas adversas (-6 graus), a eleição de Andrew Western para a Câmara dos Comuns – ocupando o cargo de deputado que pertencia à também trabalhista Kate Green, que o abandonou, em Novembro, para se tornar vice-presidente da câmara de Manchester – põe ainda mais pressão sobre o Partido Conservador e, particularmente, sobre o primeiro-ministro, Rishi Sunak, numa altura em que o país enfrenta uma vaga de greves sem precedentes.

Os 16% obtidos pela candidata tory Emily Carter-Kandola – num círculo eleitoral dominado pelo Labour desde a sua criação, em 1997 – contribuíram para a quarta derrota dos conservadores nas quatro eleições intercalares realizadas em 2022 (Wakefield; Tiverton e Honiton; Chester; e Stretford e Urmston). E, logo a abrir o ano de 2023, haverá mais uma by-election, em West Lancashire, com total favoritismo para os trabalhistas.

“Se olharmos para este [resultado em Stretford e Urmston] e para a vitória do Labour na by-election de Chester, no início do mês, em conjunto vemos que é essencialmente consistente com as conclusões das sondagens: o Labour está, hoje em dia, numa posição mais forte do que alguma vez esteve desde que David Cameron entrou no n.º 10 de Downing Street como primeiro-ministro [conservador] em 2010”, analisa John Curtice, professor de Política na universidade escocesa de Strathclyde.

“Nesse sentido, não há dúvidas de que o desafio que os conservadores enfrentam é bastante considerável. Conseguirá o primeiro-ministro Rishi Sunak persuadir os eleitores a ignorarem o que aconteceu com o governo de Liz Truss? Terá, face às circunstâncias económicas muito difíceis que o [seu] governo enfrenta, alguma possibilidade de dar a volta à situação?”, questiona o académico, em declarações à BBC.

No mais recente inquérito da YouGov para o Times, divulgado esta sexta-feira, o Partido Trabalhista obtém 48% das intenções de voto, contra apenas 23% do Partido Conservador. A terceira posição é ocupada pelos populistas de extrema-direita do Reform UK que, com 9% das preferências, estão a ameaçar roubar votos e deputados aos conservadores nas próximas eleições legislativas, agendadas para 2024.

“Chegou a altura de um Governo Labour”

Mês e meio depois de terem escolhido Sunak para o cargo de primeiro-ministro e para líder do Partido Conservador, os tories continuam com dificuldades em conseguir ultrapassar os escândalos que derrubaram Boris Johnson, em Julho, e os erros económicos cometidos por Elizabeth Truss, que se demitiu em Outubro.

A grave crise económica e energética que assola o país também não ajuda a mobilizar um eleitorado que, ao fim de 12 anos consecutivos de governos conservadores, parece dar sinais de querer dar uma oportunidade aos trabalhistas.

Consciente da posição frágil do Partido Conservador e do seu próprio favoritismo, o Partido Trabalhista tem aproveitado os bons resultados obtidos nestas últimas by-elections para retirar conclusões a nível nacional.

“Parece-me óbvio, com este resultado e com as conversas que tive com os eleitores durante a campanha, que as pessoas querem uma eleição geral”, afirmou Western, no seu discurso de vitória, na madrugada desta sexta-feira.

“Os tories desistiram de governar e é cada vez mais evidente que a população britânica desistiu deles”, atirou. “O Labour está pronto (…) e só o Labour é que tem um plano para as classes trabalhadoras e para criar um futuro mais justo e mais verde”.

Na mesma linha, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, recorreu ao Twitter para deixar uma certeza: “A mensagem que veio de Stretford e Urmston é clara: as pessoas estão fartas de 12 anos de falhanço tory. Chegou a altura de um Governo Labour.”

Os trabalhistas exigem há muito a convocatória de eleições antecipadas, mas os conservadores, que obtiveram uma larga maioria parlamentar na última votação nacional, em 2019, recusam esse cenário.

Em declarações à Sky News, Robert Hayward, membro conservador da Câmara dos Lordes e especialista em eleições e em sondagens, assumiu que, mesmo que expectável, a derrota em Stretford e Urmston foi “decepcionante” e enche de “preocupação” alguns círculos eleitorais vizinhos controlados pelos tories, nomeadamente o de Altrincham e Sale West, cujo representante é Graham Brady, o presidente do poderoso grupo parlamentar conservador 1922 Committee.

“Tem havido uma tendência desfavorável para os conservadores na cintura do Sul e do Oeste de Manchester”, alerta Hayward.

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