Líder do PSD diz que Costa “é que tem de se habituar a oposição firme e exigente”

Luís Montenegro considera que o primeiro-ministro usa um tom “justificativo e arrogante”.

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Luís Montenegro falava à margem da reunião do PPE que antecede o Conselho Europeu LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O líder do PSD defendeu esta quinta-feira que o primeiro-ministro "é que tem de se habituar a ter uma oposição firme e exigente", depois de o chefe de Governo ter avisado que a oposição se deve "habituar" ao executivo.

"Eu creio que a necessidade que o primeiro-ministro tem de enfatizar tanto que vai estar quatro anos a governar já diz muito. Por que razão é que não haveria de ficar quatro anos? Ele foi eleito, obteve maioria absoluta, tem estabilidade governativa, tem todas as condições para executar o seu programa, era o que mais faltava que ele se quisesse eximir a essa responsabilidade", declarou Luís Montenegro.

Falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas, à margem de uma cimeira do Partido Popular Europeu a anteceder o Conselho Europeu, salientou que "quem tem de se habituar é ele [António Costa], ele é que tem de se habituar a ter uma oposição firme, exigente, vigilante, que não lhe vai dar palmo de terreno para ele continuar a incumprir várias promessas e a omitir várias políticas, nomeadamente de transformação e de reforma em Portugal".

"Essa era uma responsabilidade dele, não sei porque é que tem de fazer esse reforço, fico aliás muito admirado", acrescentou Luís Montenegro, descrevendo o tom da entrevista como "justificativo e arrogante", numa "arrogância que não augura nada de bom do ponto de vista desses quatro anos de mandato".

Em causa está uma entrevista à revista Visão, hoje publicada, na qual o chefe de Governo diz aos partidos da oposição para "se habituarem" com a sua maioria absoluta e os quatro anos da actual legislatura.

Interrogado na entrevista se pretende candidatar-se à Presidência da República, António Costa recusou, sublinhando que "cada um tem a vocação que tem, e quem gosta de ser primeiro-ministro e tem vocação para isso dificilmente se adaptará a uma função que é muito distinta".

"Esse assunto, esqueçam! Nunca, jamais, em tempo algum. E não é jamais, é mesmo nunca!", afirmou.

Já questionado se estaria interessado numa alta função nas instituições europeias, o primeiro-ministro defendeu que já tem esse cargo "por inerência", enquanto chefe de Governo de um Estado-membro da União Europeia, o que lhe dá um assento no Conselho Europeu.

"Tenho um mandato, aqui, até Outubro de 2026. (...) Neste momento, tenho uma grande missão, que me ocupa bastante e me deixa totalmente realizado. Na minha vida, nunca andei a pensar no que ia fazer a seguir", afirmou.

Sobre se uma eventual saída em 2024 está "totalmente excluída", Costa respondeu: "Nenhum médico me disse que tinha de sair em 2024, e, como sou optimista, espero de estar de óptima saúde, nessa altura, para continuar".

Nas declarações aos jornalistas em Bruxelas, Luís Montenegro reforçou ainda que a prestação extraordinária de 240 euros aos mais desfavorecidos "era a ideia inicial do PSD", instando a que o Governo socialista "também acolhesse a proposta para diminuir a carga fiscal, o IRS, para a classe média, nomeadamente para o quarto escalão [...], que são pessoas que têm um rendimento ligeiramente acima deste e que têm um encargo fiscal muito elevado".

Na quarta-feira, o primeiro-ministro anunciou o pagamento de uma prestação extraordinária de 240 euros para um milhão de famílias que recebem prestações mínimas ou que beneficiem da tarifa social da energia.