Quarenta portugueses retidos no Peru devido à instabilidade política. Embaixada desaconselha viagens

Devido à “presente instabilidade política”, a embaixada “desencoraja” a realização de viagens não essenciais, em particular por via rodoviária porque os bloqueios de estrada são frequentes.

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Cuzco, Peru Reuters/STRINGER

Quarenta cidadãos portugueses estão retidos no Peru devido à instabilidade no país, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).

“O MNE tem conhecimento de 40 cidadãos portugueses, que se encontram nas regiões de Cusco, Arequipa e Águas Calientes (Machu Pichu), retidos devido ao encerramento dos aeroportos e da circulação rodo e ferroviária”, avança o ministério em comunicado, garantindo que “todos os cidadãos assinalados se encontram em segurança” e em contacto permanente com as autoridades.

Entre os 40 portugueses estão dez jovens que viajaram na última semana para o Peru, incluindo um grupo de sete, retido em Arequipa, e outro de três, em Aguas Calientes, segundo relatos dos pais dos jovens à Lusa.

“Eles estão presos num hotel em Arequipa, onde chegaram com muita dificuldade. Na noite de sábado ficaram retidos quando seguiam na estrada Pan Americana em direcção a Cuzco. Seguiam num autocarro onde ficaram durante 50 horas porque as estradas foram cortadas por manifestantes”, disse à Lusa Paula Rodrigues.

O Ministério indicou, num comunicado anterior, que os portugueses que se encontram no Peru "estão em segurança" e aguardam a reabertura para abandonarem o país.

"Os portugueses que se encontram, neste momento, no Peru estão em segurança, com o acompanhamento e apoio da embaixada (de Portugal) em Lima, até à reabertura dos aeroportos, para poderem viajar e sair do país de forma segura. O MNE continuará a acompanhar e a prestar todo o apoio necessário", refere uma nota emitida na quarta-feira à noite.

No mesmo documento, o Ministério dos Negócios Estrangeiros indica que através da embaixada de Portugal em Lima, "tem acompanhado, desde o início, e em permanência, a situação dos portugueses que se encontram retidos no Peru".

Por outro lado, segundo o MNE, a embaixada de Portugal tem realizado todas as diligências possíveis junto das autoridades peruanas e mantido contactos com os portugueses e respectivas famílias, tendo em vista a saída, em segurança, do país.

"Uma vez que existem outros cidadãos comunitários no Peru, em idêntica situação, está em curso a articulação com os representantes diplomáticos dos demais países da União Europeia no Peru, bem como com o delegado da União Europeia", explica ainda a nota do MNE.

De acordo com o portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 2020, estavam registados na embaixada de Portugal em Lima 242 cidadãos portugueses.

Embaixada desaconselha viagens

A embaixada de Portugal no Peru desaconselhou esta quinta-feira deslocações no interior do país devido, alertando sobre as dificuldades de intervenção nas zonas mais remotas.

"O poder das autoridades centrais nas zonas mais remotas é frágil, pelo que a capacidade de intervenção é limitada", indica a embaixada de Portugal em Lima através do portal diplomático.

A mesma nota, referindo-se à "presente instabilidade política", "desencoraja" a realização de viagens não essenciais, em particular por via rodoviária porque os bloqueios de estrada são frequentes.

"Caso se veja forçado a viajar, deve fazer-se acompanhar dos seus documentos e prever água e comida para eventuais distúrbios (como cortes de estrada ou manifestações, que podem bloquear a circulação por muitas horas)", indica o aviso.

Na quarta-feira, o governo da chefe de Estado, Dina Boluarte, decretou o estado de emergência em todo o país, por um período de 30 dias, "para controlar actos de vandalismo e violência cometidos nas manifestações de protesto".

Por outro lado, o ex-presidente Pedro Castillo vai continuar detido durante mais 48 horas. Castillo foi preso depois de ter dissolvido o Congresso na tentativa de promover mudanças constitucionais para evitar um julgamento.

As atitudes de Castillo foram consideradas como um "golpe de Estado" por membros do governo, incluindo pela actual presidente Boluarte.

O decreto publicado na quarta-feira indica que a Polícia Nacional do Peru mantém o controlo da ordem interna, com o apoio das Forças Armadas. Durante o estado de emergência ficam suspensas os direitos constitucionais relativos à inviolabilidade domiciliária, liberdade de circulação e liberdade de reunião.

Nas últimas 24 horas um grupo de manifestantes que protestam contra o governo e o Congresso queimou várias instalações públicas no município provincial de Espinar, região de Cuzco, sul do país.

Os protestos contra a chefe de Estado eclodiram no domingo registando-se oito mortos, mais de meia centena de polícias feridos e um número que não foi especificado de manifestantes detidos.