Observadas as galáxias mais distantes que já vimos
O telescópio James Webb detectou a luz de galáxias quando o Universo tinha apenas 350 milhões de anos, anuncia a NASA. Este recorde, acreditam os cientistas, vai ser quebrado no futuro próximo.
É o mais perto que já estivemos do Big Bang ou, noutra perspectiva, o mais longe que viajámos no tempo. As observações do telescópio espacial James Webb captaram as quatro galáxias mais distantes que já vimos até agora: a luz que recebemos agora foi emitida há 13.400 milhões de anos.
Mais concretamente, o telescópio espacial James Webb detectou estas galáxias quando o Big Bang tinha acontecido há apenas 350 milhões a 400 milhões de anos. Nestas imagens do Universo, quanto mais longe é a distância, mais antiga é a imagem captada. Isto porque aquilo que vemos é a luz emitida por estas galáxias naquele momento – há 13.400 milhões de anos. É mais um momento para a galeria de medalhas (ou fotografias) que o novo telescópio, operado pela NASA, pela Agência Espacial Europeia (ESA) e pela agência espacial canadiana (CSA), começa a criar.
Estas galáxias faziam parte de um conjunto de objectos astronómicos captados pelos instrumentos do James Webb, incluindo uma câmara de radiação infravermelha acoplada no mais recente telescópio espacial. Apesar de já se suspeitar de que poderíamos estar na presença das galáxias mais antigas que conhecíamos, apenas agora foi possível ter confirmação, através da análise do espectro de infravermelhos – que permite ter medições precisas da distância, mas também olhar para a constituição química destas galáxias.
“Com o telescópio espacial James Webb, pela primeira vez pudemos encontrar galáxias assim tão distantes”, nota Brant Robertson, astrofísico envolvido na confirmação deste novo recorde, citado em comunicado.
E estas até podem nem ser as galáxias mais distantes que vamos descobrir. A NASA avança que há outras galáxias candidatas a superar esta distância – mas que ainda carecem de confirmação.
Para lá do imaginável
A cientista portuguesa Catarina Alves de Oliveira, responsável pela calibração de um dos instrumentos do telescópio espacial James Webb, dizia à data do lançamento deste telescópio para o espaço que este seria “uma verdadeira máquina do tempo”. Quase um ano depois (o telescópio foi lançado a 25 de Dezembro de 2021), já começam a aparecer provas disso mesmo.
Os astrónomos medem a distância até uma galáxia através do desvio para o vermelho da sua luz. Devido à expansão do Universo, os objectos distantes parecem afastar-se de nós e a luz é estendida para comprimentos de onda mais longos e vermelhos. Nestas contas, quanto maior é o desvio para o vermelho, mais longe estão. Eis um exemplo dado por Brant Robertson: “Se o desvio para o vermelho for de 13, o Universo tinha apenas 325 milhões de anos [quando aquela luz foi emitida].”
As novas descobertas concentram-se em quatro galáxias que têm este desvio para o vermelho em níveis mais elevados do que estávamos habituados. Duas delas são confirmações de uma observação inicial do telescópio espacial Hubble, que, apesar de já ter mais de 30 anos, continua a observar o Universo.
As outras duas galáxias, as mais distantes, foram detectadas pela primeira vez já pelo telescópio James Webb – e são estas as mais antigas. Por exemplo, a galáxia mais distante apresenta um desvio de 13,2, o que, trocado por anos, significa que está a cerca de 13.500 milhões de anos de nós. “Isto está muito para lá do que imaginávamos poder encontrar antes do telescópio James Webb”, diz Brant Robertson, um dos investigadores que apresentaram estas descobertas no último fim-de-semana, numa conferência no Instituto Científico do Telescópio Espacial, em Baltimore (Estados Unidos).
“Era crucial provar que estas galáxias habitaram o início do Universo”, aponta Emma Curtis-Lake, também envolvida nesta detecção. “Confirmámos que algumas dessas galáxias até estão mais distantes do que o Hubble podia ver! É uma conquista verdadeiramente emocionante para a missão [do telescópio James Webb].”
Este resultado surge de uma colaboração internacional de mais de 80 astrónomos, que constituem o programa JADES, dedicado a observar os primeiros passos do Universo com o maior detalhe possível.
Há objectivos já definidos para os próximos meses. Um deles é olhar mais atentamente para as estrelas presentes nestas galáxias, algumas das quais podem ter nascido apenas 250 milhões de anos após o Big Bang, que ocorreu há 13.800 milhões de anos.
“Com estas medições, podemos conhecer o brilho intrínseco das galáxias e descobrir quantas estrelas têm. Agora podemos começar a separar as peças para perceber como as galáxias foram construídas ao longo do tempo”, perspectiva o Brant Robertson.