Reserva de água nas albufeiras aumentou para 72% por causa da chuva forte

Em apenas dois dias, o volume de água represado e monitorizado pela APA registou um acréscimo substancial como não se via desde 1997.

Foto
Em Castelo de Bode, cuja água abastece a área metropolitana de Lisboa, a albufeira recuperou cerca de 180 hm3 Diogo Ventura

O efeito das chuvas intensas dos últimos dias já se sente nas barragens. Na segunda-feira, 12 de Dezembro, o volume de água nas 80 albufeiras monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) atingia os 8618 hectómetros cúbicos (hm3 ), e correspondia a 65% da capacidade total de armazenamento que é de 13.237hm3 . No dia 14 de Dezembro, o quadro hidrológico nacional sofreu uma alteração significativa por causa das chuvas fortes: em 71 das 80 albufeiras monitorizadas pela APA, a reserva de água aumentou cerca de 785hm3 (para 72% da capacidade total de armazenamento).

A Barragem do Maranhão em Avis, que faz parte da bacia hidrográfica do Tejo, é o exemplo de maior significado a nível nacional. No dia 12 de Dezembro o volume de água armazenado na sua albufeira (52.488 hm3) apresentava uma situação problemática, a ponto de poder vir a condicionar o próximo ano agrícola. Dois dias depois, a Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia, que faz a gestão dos recursos hídricos desta reserva de água, foi forçada a proceder a descargas para regular a capacidade de encaixe da albufeira que pode armazenar 205.400 hm3. Em apenas dois dias recebeu um débito de quase 150 milhões de metros cúbicos de efluentes.

A recuperação das reservas de água ocorreu “em quase todas as bacias hidrográficas a nível nacional”, refere a APA , tendo-se registado a maior subida (em percentagem), segundo o comunicado da APA enviado ao PÚBLICO, destacando a evolução positiva na bacia do Vouga (+20%), do Mondego (+14%), do Tejo (+17%), Sotavento (+10%) e Guadiana (7%). E também a albufeira de Alqueva, que recuperou cerca de 350hm3, e Castelo de Bode, cuja água abastece a Área Metropolitana de Lisboa que consome em média cerca de 450 mil m3/dia. Esta última albufeira recuperou cerca de 180hm3.

Albufeiras no vermelho

No entanto, a recuperação das reservas de água nas bacias do Mira (Santa Clara com 40%), Sado (Monte da Rocha 8% e Campilhas 3%) e Barlavento algarvio (Bravura 10%) não sofreu alterações. As três albufeiras continuam no vermelho.

A situação hidrológica da região do Algarve continua grave em termos de disponibilidades hídricas. Com efeito, os valores de precipitação observados realçam a entrada nas seis albufeiras algarvias de um volume de cerca de 180hm3 (correspondente a 40% da capacidade total de armazenamento), que representa cerca de 40% das necessidades anuais para abastecimento público.

Esta realidade contrasta com as albufeiras instaladas na região espanhola de Huelva vizinha do Algarve, que se posiciona como a província andaluza que mais água armazenou na sequência das fortes chuvas registadas entre os dias 12 e 14 de Dezembro e que se traduziu, só na barragem do Chança, construída junto à fronteira portuguesa e próximo da confluência com o rio Guadiana, num volume acumulando superior a 142hm3.

PÚBLICO -
Aumentar

Descargas controladas

Em Portugal, nas regiões mais afectadas pela precipitação intensa foi necessário realizar em algumas barragens descargas controladas, para ganhar encaixe “antes de cada um dos eventos que ocorreram em Novembro e que ainda estão a acontecer em Dezembro”, refere a APA. Há que acautelar as escorrências que continuarão a verificar-se nas próximas horas, devido à saturação dos solos, sublinha a APA. Estão nesta situação as albufeiras do Alto Lindoso (Lima), da Caniçada (Cávado), da Aguieira e de Fronhas (Mondego), de Castelo do Bode (Zêzere), de Póvoa e Meadas na ribeira de Nisa (Tejo) e Maranhão na ribeira de Seda (Tejo).

Nas albufeiras que integram a Resolução do Conselho de Ministros n.º 82/2022, que define a criação de uma reserva hídrica estratégica para a produção de energia, verifica-se que, das 15 albufeiras abrangidas, “apenas o Alto Rabagão não atingiu ainda a cota objectivo definida”. O mesmo não aconteceu com as albufeiras instaladas “no rio Lima e na cascata do Cávado, tendo inclusive sido necessário em meados de Novembro rebaixar as cotas de algumas albufeiras para aumentar a capacidade de encaixe”, salienta o comunicado da APA.