Afinal, as cobras têm clitóris (e não dois pénis subdesenvolvidos)

Estudo indica que, onde antes se acreditava estarem glândulas de cheiro ou pénis subdesenvolvidos, está um clitóris.

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Boris Smokrovic/Unsplash

Nem glândulas de cheiro, nem versões pouco desenvolvidas de pénis: afinal, as cobras têm clitóris. É o que diz um estudo publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, que reporta que as cobras têm dois clitóris individuais — “hemiclitóris”, chamam-lhes —, separados por tecido e escondidos debaixo da pele na parte de baixo da cauda.

Investigações anteriores já tinham encontrado este órgão, mas acreditavam tratar-se de glândulas de cheiro ou de pequenos pénis. Resultado da falta de investigação nos órgãos sexuais femininos (também nos animais), criticada pelos autores do estudo: “A genitália feminina sempre foi ignorada em comparação com a masculina, o que limita o nosso entendimento da reprodução sexual nas linhagens de vertebrados”, escreveram.

A descoberta foi de Megan Folwell, doutoranda da Universidade de Adelaide, na Austrália, que se deparou com uma estrutura em forma de coração. O estudo sugere que estes órgãos têm “importância funcional durante o acasalamento”. Folwell disse ao Guardian que a equipa acredita que os “hemiclitóris” podem “dar algum tipo de estímulo, sinalizando o relaxamento vaginal e lubrificação, o que pode ajudar a fêmea durante a cópula”. Mais ainda, pode “indicar aos ovários a ovulação, para os preparar para receber esperma”.

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O clitóris tem a forma de coração DR

Os investigadores dissecaram dez cobras de nove espécies para chegarem às conclusões evidenciadas no estudo. E os tamanhos do órgão em questão variavam entre menos de um milímetro e sete milímetros.

“Agora que sabemos que isto está aqui, como é, e que há tecido nervoso eréctil, não podemos evitar pensar: porque não seria para prazer?”, referiu Jenna Crowe-Riddell, co-autora do estudo e investigadora na Universidade La Trobe, citada no mesmo texto.

Além da pouca atenção dada à genitália feminina, Crowe-Riddell refere ainda que “é difícil ver bem a genitália de uma cobra”. “Talvez porque muitos cientistas assumiram que as fêmeas não tinham clitóris, e, por isso, não tinham capacidade de sentir-se excitadas, tem sido assumido de forma generalizada que o acasalamento entre cobras é uma questão de coerção dos machos em relação às fêmeas”, escreve no The Conversation. “A nossa descoberta sugere que a excitação da fêmea — e algo como a sedução — podem ter um papel.”

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