Kaili sentiu-se “traída” por eurodeputados, diz advogado
Eurodeputada grega não esteve presente na primeira audiência judicial por causa de uma greve de guardas prisionais. Dois dos acusados vão permanecer em prisão preventiva.
A eurodeputada Eva Kaili não compareceu à audiência judicial marcada para esta quarta-feira em que foi decidido o prolongamento da prisão preventiva para os acusados no caso de corrupção conhecido como Qatargate. O seu advogado voltou a insistir na sua inocência e disse que a política se sente “traída” pelos colegas do Parlamento Europeu.
Kaili vai ser ouvida no dia 22, mantendo-se presa pelo menos até lá. De acordo com o site Politico, a eurodeputada não pôde ser transportada para o tribunal de Bruxelas onde decorria a sessão por causa de uma greve de guardas prisionais.
Para além de Kaili, encontram-se detidos o seu companheiro, Francesco Giorgi, que é também assessor parlamentar, o secretário-geral de uma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos italiana, Niccolo Figa-Talamanca, e o ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri.
A sessão no Palácio da Justiça de Bruxelas foi fechada aos jornalistas. Um painel de três juízes determinou que Giorgi e Panzeri vão permanecer em prisão preventiva, enquanto Talamanca teve autorização para regressar a casa com pulseira electrónica.
Os quatro são acusados de envolvimento num esquema que tem o objectivo de influenciar decisões políticas no Parlamento Europeu em favor de um país do Médio Oriente a troco de subornos. Apesar de o Qatar não ser referido directamente, a imprensa belga cita fontes da investigação que assumem tratar-se do emirado. O Governo de Doha nega todas as acusações. A polícia belga realizou buscas em 19 residências e gabinetes parlamentares nos últimos dias e confiscou, no total, mais de 1,5 milhões de euros em dinheiro.
Numa conferência de imprensa, um porta-voz do Ministério da Justiça belga forneceu alguns pormenores acerca da investigação, que envolveu um trabalho de cooperação entre os serviços secretos belgas e congéneres europeias durante mais de um ano. "Durante demasiado tempo fomos demasiado ingénuos", admitiu o responsável, referindo-se à presença de operações clandestinas em território belga operadas por países estrangeiros.
O caso chocou grande parte dos líderes europeus que o consideram um duro golpe na confiança dos cidadãos na lisura das instituições europeias. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que as alegações “são muito graves” e prometeu retomar os esforços para que seja constituída uma agência independente de supervisão no âmbito da União Europeia. A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, declarou que “a democracia europeia está sob ataque”.
Na terça-feira, o Parlamento Europeu votou de forma quase unânime a favor da retirada de Kaili do cargo de vice-presidente. Antes, a eurodeputada já tinha sido expulsa do Partido Socialista grego (PASOK) e suspensa do grupo dos Socialistas e Democratas. Na agenda do hemiciclo estava programado para esta semana o debate e votação sobre a isenção de vistos para a entrada de cidadãos de vários países, incluindo o Qatar, na UE, mas acabou por ser adiado.
O advogado de Kaili disse que a eurodeputada grega se sente “traída” pelos colegas do Parlamento Europeu e voltou a defender a sua inocência. “Ela diz sentir-se traída por [restantes eurodeputados] terem feito parecer que ela tinha uma agenda pessoal com o Qatar e por terem sugerido que ela aceitou subornos”, afirmou Michalis Dimitrakopoulos em entrevista à Reuters.
“A sua posição é de que não aceitou subornos, é inocente, o Qatar não precisava dela, não precisava de a subornar e ela nada tinha a oferecer ao Qatar”, continuou o advogado.
Um discurso recente de Kaili no Parlamento Europeu, em que a eurodeputada defende o Qatar das críticas de violações de direitos laborais durante a preparação do Campeonato do Mundo, tem sido encarado de forma suspeita desde que os contornos do Qatargate se tornaram públicos.
Em Novembro, Kaili visitou o Qatar e saudou as reformas postas em prática no emirado na área dos direitos laborais, como a introdução do salário mínimo. À Reuters, Dimitrakopoulos diz que a viagem “não foi uma decisão pessoal” da eurodeputada, mas sim do Parlamento Europeu com “o acordo” da Comissão Europeia e do Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell.