A próxima edição do GUIdance quer abraçar “todas as diferenças dos corpos” (e traz Akram Khan)

De 2 a 11 de Fevereiro, o Festival Internacional de Dança de Guimarães recebe Gaya de Medeiros, Marco da Silva Ferreira e a companhia Dançando com a Diferença. E o Livro da Selva de Akram Khan.

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Jungle Book reimagined: o Livro da Selva de Rudyard Kipling tornou-se um espectáculo de Akram Khan AMBRA VERNUCCIO

Os espectáculos BAqUE, da artista trans, não binária, Gaya de Medeiros, Carcaça, de Marco da Silva Ferreira, Jungle Book reimagined, da Akram Khan Company, e Beautiful People, Blasons e Doesdicon, que unem, respectivamente, os coreógrafos Rui Horta, François Chaignaud e Tânia Carvalho à companhia Dançando Com a Diferença, são alguns dos destaques da 12.ª edição do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea de Guimarães, que no próximo ano reflectirá, através da transformação dos corpos, questões de género, de identidade, e de relação entre o humano e a natureza.

Depois da atmosfera de "escuridão e incerteza" que marcou a última edição do festival, ainda na ressaca da pandemia, a retenção dos corpos” dará lugar a uma exploração das “transformações que estão a ser operadas na sociedade do ponto de vista local, nacional e internacional”, pondo em palco “todas as diferenças”, adiantou esta quarta-feira Rui Torrinha, director artístico do festival que decorrerá entre os dias 2 e 11 de Fevereiro no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), no Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG) e no Teatro Jordão, que no próximo ano se juntará, pela primeira vez, ao certame.

O primeiro sinal desse espírito de “transcendência, transformação e transmissão das experiências” que transita da 11.ª para a 12.ª edição do GUIdance estará inscrito em BAqUE, de Gaya de Medeiros, bailarina e coreógrafa trans, não binária, nascida no Brasil e actualmente a morar em Lisboa. A mais recente criação da artista, que terá a sua estreia já esta quinta-feira no Teatro do Bairro Alto, coloca em palco cinco pessoas trans, de diferentes disciplinas artísticas, para celebrar “um ritual de afectos e fábulas”. “O espectáculo nasce da seguinte pergunta: que tipo de euforia e celebração habita esta nossa identidade?”, explicou a artista por videoconferência. A peça abre o festival, subindo ao palco do CCVF a 2 de Fevereiro.

Sob o mote desta edição – “natureza, trans formação e outras práticas sensíveis: a felicidade que nos aguarda” , o GUIdance propõe ainda o encontro com o trabalho da companhia Dançando Com a Diferença, que tem como vocação a inclusão de pessoas com e sem deficiência na dança contemporânea. As peças que para ela criaram os coreógrafos François Chaignaud e Tânia Carvalho, no díptico Blasons/Doesdicon, e Rui Horta, em Beautiful People, subirão ao palco do Teatro Jordão nos dias 3 e 9 de Fevereiro, respectivamente.

Henrique Amoedo, que fundou a companhia em 20o1, recordou, também por videoconferência, que a Dançando com a Diferença nasceu para provar que as “pessoas com deficiência podem dançar, não apenas no âmbito terapêutico, mas também no palco”. O director ressalvou ainda que os espectáculos que a companhia levará ao festival de Guimarães são testemunho do “acervo de diferentes timings de aprendizagem e de técnicas” acumulado ao longo destes 21 anos.

O alinhamento do festival, que contará com dez espectáculos, quatro dos quais em estreia nacional, passa também pela mais recente criação do coreógrafo Marco da Silva Ferreira, Carcaça (CCVF, 8 de Fevereiro), onde são desconstruídas as “concepções de identidade colectiva, memória e cristalização cultural”, conforme escreveu o PÚBLICO em Outubro, a propósito da estreia do espectáculo no Porto.

O GUIdance fechará com a “convicção profunda de que há resolução para a humanidade, nem que seja pelo regresso à relação com a natureza”, adiantou Rui Torrinha, apresentando Jungle Book reimagined, em que o aclamado Akram Khan parte do clássico O Livro da Selva, de Rudyard Kipling, para reinventar a viagem de Mogli através dos olhos de um refugiado climático. Caberá ao espectáculo do coreógrafo britânico, que regressa ao festival depois das aparições de 2016 e 2020, encerrar o programa a 11 de Fevereiro, no CCVF.

Pelo meio, serão ainda apresentados três espectáculos ao abrigo da Aerowaves, plataforma internacional que mapeia o trabalho de artistas emergentes na área da dança e da qual a Oficina, cooperativa que organiza o GUIdance, faz parte. Some choreographies, do italiano Jacopo Jenna, e Gran Bolero, de Jesús Rubio Gamo, sobem ao palco a 4 de Fevereiro, enquanto Soirée d’études, do belga Cassiel Gaube, será mostrado a 10 de Fevereiro.

Silent Disco, da companhia Teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser, no dia 4, e O Elefante no Meio da Sala, de Vânia Doutel Vaz, no dia 11, compõem o restante programa.

Além dos espectáculos, o GUIdance propõe ainda actividades paralelas como conversas pós-apresentações, masterclasses, debates, oficinas, exposições e visitas de artistas a escolas básicas e secundárias do concelho.

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