Na Ucrânia, há cães terapeutas que ajudam crianças a enfrentar os traumas da guerra

Missão dos cães é simples: têm de ser pacientes, deixarem-se ser abraçados e não ladrar.

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Crianças ucranianas numa sessão de terapia com cães em Abril Ueslei Marcelino/Reuters

A Rússia invadiu a Ucrânia há dez meses e o rasto de destruição é evidente: há cidades bombardeadas e sem energia, infra-estruturas destruídas, milhões de refugiados e outras tantas mortes. Mas também há o que não se vê: crianças traumatizadas pela guerra e psicólogos que as tentam ajudar, neste caso com a ajuda de cães terapeutas.

Bice, um pitbull terrier americano de oito anos, chegou esta semana ao Centro de Reabilitação Psicológica de Boyarka, no Sudeste de Kiev, para desempenhar estas funções, escreve a agência AP.

Cada sessão dura 30 minutos e a missão deste cão é simples: ser paciente, deixar-se ser abraçado e não ladrar. À sua espera estavam 16 crianças com idades entre os 2 e os 18 anos, que ficam alerta e podem assustar-se com o mais pequeno barulho, incluindo uma porta a fechar ou o som de um avião.

O centro nasceu no ano 2000 para ajudar pessoas afectadas directa ou indirectamente com as explosões da central nuclear de Tchernobil em 1986, e já tinha utilizado terapia com cavalos. Com cães, por outro lado, é a primeira vez. “Li muita literatura que diz que trabalhar com cães, com reabilitadores de quatro patas, ajuda as crianças a reduzir o stress, aumentar a resistência ao stress e reduzir a ansiedade”, afirmou a psicóloga Oksana Sliepova, citada pela AP.

Segundo Oksana, a terapia com Bice pareceu resultar. Naquele momento, as crianças estavam calmas e sorridentes enquanto as mães assistiam e tiravam fotografias.

Estas reacções são importantes tendo em conta o que aconteceu nos últimos tempos. Há quem tenha visto os familiares serem espancados pelas tropas russas, quem tenha aprendido a estar longe de pais e irmãos que combatem no Exército ucraniano e até quem se tenha habituado a deitar-se no chão e procurar um abrigo antiaéreo sempre que ouve o som de mais um míssil. “Cada criança é psicologicamente traumatizada de maneiras diferentes”, acrescentou a psicóloga.

Regressando à terapia, Bice deixa-se abraçar, dá a pata, reboloa e até mostra que consegue apoiar-se só com as patas da frente. Esta não é a primeira vez que a Ucrânia utiliza cães terapeutas para ajudar as crianças a superar os traumas da guerra. Em Abril, no centro de terapia Dr. Doc, em Zaporijjia, no Sul, Evsei, um spaniel, tinha o mesmo trabalho. Além de terapeutas, os cães também fazem parte do exército e ajudam a farejar e detectar bombas, como é o caso de Patron.

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