Estão bem encaminhadas as negociações para um novo Quadro Global da Biodiversidade, que estabeleça as condições para travar a perda de diversidade biológica até 2030? Ao fim de uma semana da 15.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica – a COP15 –, que está a decorrer em Montreal, no Canadá, a resposta não parece positiva: “Não há muito progresso a relatar neste momento”, comentou Guido Broekhoven, da organização ambientalista internacional WWF, numa conferência de imprensa online.
“Há duas linhas de negociações: uma sobre metas e objectivos, e outra sobre mobilização de recursos [financiamento]. Mas não tem havido grande progresso”, sintetizou Broekhoven. E é preciso que as negociações progridam para que sejam tomadas decisões no segmento de alto nível da conferência (onde apenas são esperados ministros e secretários de Estado), entre 15 e 17 de Dezembro.
“Estamos com um problema do tipo do ovo e da galinha. Ponto um: sabemos que precisamos de mais financiamento directo para salvaguardar a biodiversidade. Ponto dois: sabemos que grande parte desse financiamento tem de ser canalizado para o Sul Global, que é onde há maior diversidade biológica. E, ponto três: sabemos que o financiamento não pode vir só de um sítio, tem de haver múltiplas fontes, públicas e privadas. Tudo isto tem de avançar em simultâneo”, considerou Marco Lambertini, director-geral da WWF Internacional.
Uma meta fundamental das que estão em discussão é a de decidir classificar como área protegida 30% tanto do território marinho como terrestre, até 2030 – as zonas onde a biodiversidade é mais significativa. “Isto é equivalente à meta de não ter um aquecimento global a 1,5 graus que é estabelecida pelo Acordo de Paris, um sinal claro de que estamos prontos a abraçar um desenvolvimento sustentável”, declarou Lambertini.
Mas estabelecer simplesmente esta meta não chega. Além de criar os meios para a satisfazer, disse Broekhoven, é preciso que o documento que saia da COP15 se debruce sobre outros assuntos. “Tem de ser claro sobre as forças motrizes da perda de biodiversidade. O elo fundamental entre a preservação da biodiversidade e a saúde humana, por exemplo, neste momento não está garantido que fique claro no texto”, exemplificou.
A questão da mobilização de recursos pode ser uma grande barreira, frisou, por seu lado, Lucia Ruiz Bustos, da WWF México. “As negociações podem ficar encalhadas por causa da mobilização de recursos. Mas veja-se o o objectivo de proteger 30% das áreas até 2030, não pode ser uma meta só por si. É preciso garantir que essas áreas protegidas têm recursos para funcionar, para ter pessoal, para serem geridas de forma eficiente”, sublinhou.
Marco Lambertini deixou uma mensagem aos líderes políticos que chegarão a Montreal dentro de poucos dias. “Têm de se concentrar no que é necessário, e não no que se julga possível neste mundo geopoliticamente fracturado”, aconselhou. “É preciso ambição, e são necessários recursos para pôr em prática essa ambição”, avisou.