Os Perdedores de Manuel Fúria atracam no CCB

Em Outubro chegou novo disco e primeira apresentação em Angra do Heroísmo. Este sábado, Manuel Fúria leva a Lisboa o novo álbum, chegado de surpresa, álbum de uma nova vida.

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Manuel Fúria regressou aos palcos em Outubro depois de quatro anos de ausência Tiago da Cunha Ferreira

Em Outubro, a surpresa de um novo disco que não sabíamos estar em preparação. Manuel Fúria, figura marcante do pop/rock português da última década e meia editava Os Perdedores e apresentava-o no festival literário Arquipélago de Escritores, em Angra do Heroísmo. Álbum sobre “cicatrizes e a forma como o cicatrizado pode caminhar”, será apresentado em Lisboa este sábado, no Centro Cultural de Belém, às 21h (bilhetes a 15€).

Manuel Fúria, que imaginou revoluções para o Portugal pop a bordo d’Os Golpes e, a solo, em As Aventuras do Homem Arranha (2008), Manuel Fúria Contempla os Lírios do Campos (2013) e Viva Fúria (2017), desaparecera do olhar público em 2018. Quatro anos depois, Os Perdedores foi tocado pela primeira vez por Fúria e banda (Francisca Aires Mateus, Tomás Cruz, Vasco Magalhães e João Eleutério) no meio do Atlântico.

Os Perdedores teve génese num impasse. Finda a digressão de Viva Fúria, Manuel Fúria sentiu-se “entupido, bloqueado”, recorda ao PÚBLICO, por dar por si a “considerar, instintivamente, critérios que não eram os melhores: se esta canção vai passar na rádio, se o refrão é orelhudo, se me vai garantir que toque muito ou pouco". A saída estava a um pequeno grande passo de distância. “Mudei a minha relação com a música e foi uma grande libertação”. Deixaram de interferir os factores externos, ficou apenas a relação límpida com as canções.

Nasceu então um nome, Os Perdedores, e uma ideia. Um álbum sobre perda. “Desde perder as chaves de casa a perder um amigo para a droga, a perder-nos a nós próprios”, explica. “Mas também estar do lado errado da história e, por isso, não ter nada a perder. Ao mesmo tempo, um lado devocional, o largar tudo o que é acessório para estar no que é essencial”.

Os Perdedores é reflexo de uma vontade antiga, “a de fazer música de dança pura e dura” e também um espaço de memória e autobiografia. Manuel Fúria canta lugares desaparecidos nas ruas da cidade, canta a vida em bando na adolescência, canta cristãos perseguidos ontem, no império romano do século II, e hoje, no Cabo Delgado do século XXI.

Sem expectativas, Fúria sente-se livre. “Quando estava no Arquipélago de Escritores não sabia que ia ao CCB. Agora vou tocar ao CCB e depois não sei onde vou.” Este sábado Os Perdedores atraca em Lisboa. Depois, logo se verá. “Estou a fazer navegação à vista”.

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