Qual é a pegada carbónica de... um e-mail?
Enviar uma mensagem electrónica não é um acto inócuo para o ambiente: centenas de mil milhões de e-mails são enviados todos os anos, produzindo milhões de toneladas de CO2.
Engana-se quem pensa que enviar uma mensagem electrónica é um acto inócuo para o ambiente. As centenas de mil milhões de e-mails que a população mundial troca todos os anos produzem mais de uma centena de milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Mas, afinal, qual é exactamente o custo climático de um mero e-mail? Não é possível responder a esta pergunta sem fazer muitas outras. Em qual dispositivo a mensagem foi lida ou enviada - telemóvel ou portátil? Tinha anexos pesados, como relatórios ou fotos? Quanto tempo o remetente demorou a escrever o texto e o destinatário levou para ler? A mensagem foi para a caixa de spam? A assinatura de quem a enviou incluía um logótipo da empresa? Qual é a eficiência dos servidores por onde a mensagem passou ou ficou alojada? Todas estas questões envolvem factores que condicionam a pegada carbónica da correspondência digital.
O investigador Mike Berners-Lee refere, na edição mais recente do livro How bad are bananas - the carbon footprint of everything (Profile Books, 2020), que o custo ambiental médio de um e-mail pode variar entre 0,03 e 26 gramas de CO2 equivalente. O intervalo entre um valor e outro é enorme porque as características das mensagens também diferem bastante. Vamos então a números mais precisos.
Sabia que...
...a correspondência digital foi responsável, em 2019, pela produção de cerca de 150 milhões de toneladas de CO2 equivalente no mundo?
Um correio indesejado que é desviado pelo filtro anti-spam pode ter uma pegada de 0,03 gramas, o menor valor estimado pelo investigador especializado em emissões associadas à crise climática. Calcula-se que uma parte significativa das mensagens enviadas hoje no mundo seja indesejada e vá directamente para uma caixa à parte.
Já uma mensagem breve enviada entre dois telemóveis teria uma pegada de 0,2 gramas de dióxido de carbono equivalente, um valor que sobe para 0,3 gramas se o remetente usar um portátil para escrever e o destinatário, por sua vez, optar por ler o texto num dispositivo semelhante.
Se o e-mail for mais ambicioso, demorando por exemplo dez minutos para ser escrito e três para ser lido, então já pode ter uma pegada carbónica de 17 gramas de CO2 equivalente. Uma vez que se trataria de um texto mais elaborado, a estimativa de Berners-Lee considera que a mensagem foi enviada e recebida por um computador portátil.
Já o maior custo ambiental estimado, o de 26 gramas de dióxido de carbono, corresponde também a uma mensagem que leva dez minutos para ser elaborada mas que, neste caso, é enviada para 100 pessoas ao mesmo tempo. Só uma lê o conteúdo na íntegra, as outras 99 dão uma olhadela de 30 segundos e seguem em frente.
Em 2019, a correspondência digital foi responsável pela produção de cerca de 150 milhões de toneladas de CO2 equivalente no mundo. Isto correspondia, há três anos, a 0,3% da pegada carbónica global. Hoje, as consequências deverão ser maiores, uma vez que o número de e-mails enviados tende a aumentar de ano para ano.
Sejamos francos: a troca de e-mails está muito longe de ser o maior dos nossos problemas ambientais, sobretudo se comparada a sectores altamente poluentes como o da agro-pecuária e dos combustíveis fósseis. Ainda assim, é possível fazer boas poupanças para o ambiente se passarmos a usar o correio electrónico de forma mais eficiente e pragmática.
Há várias mudanças de hábitos digitais que podem contribuir para a redução de emissões. Subscrever apenas os serviços ou conteúdos em que estamos realmente interessados é um deles, sugere o site Carbon Literacy. Há quem já tenha os filhos na escola e continue a receber newsletters sobre amamentação, por exemplo. Ou já não esteja à procura de casa e mantenha a subscrição de campanhas imobiliárias. Cancelar a subscrição de tudo o que não nos interessa não só evita emissões desnecessárias, como também reduz a nossa carga mental no que toca à gestão de e-mails.
Reconsiderar protocolos digitais em empresas e organizações é outra possibilidade. Por uma questão de delicadeza, tendemos a agradecer o envio de todos relatórios e documentos. Muitas mensagens circulam com apenas uma palavra escrita: "obrigada". Se estivermos interessados na redução de emissões vazias - ou seja, a produção de CO2 sem ganhar nada em troca -, também podemos passar a elaborar mensagens mais sucintas, apenas com a informação necessária, que deve ser enviada unicamente para as pessoas que dela precisam. O planeta agradece.