Drones encontram plantas quase extintas escondidas em penhascos

As novas tecnologias conseguiram fazer com que os cientistas possam agora chegar a lugares demasiado arriscados e alcançar os últimos indivíduos sobreviventes antes que seja demasiado tarde.

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Ben Nyberg é o coordenador do programa de drone no Jardim Botânico Tropical Nacional, recolhe a loosestrife amarela do rio Wailua, na região do Buraco Azul de Kauai, Havai Reuters/NATIONAL TROPICAL BOTANICAL GARD
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Extinção
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Ben Nyberg estava de pé num cume de uma encosta na Costa Na Pali do Havai, com os olhos a vasculhar os vestígios folhosos nas superfícies de rocha vermelha. Estava tudo tranquilo, se não fosse um zumbido de um drone a voar entre bandos de curiosos pássaros tropicais de cauda branca.

Nyberg dirigiu o drone para mais perto do cume oposto, examinando o iPad nas suas mãos, que servia como um visor. Depois, viu-a: Wilkesia hobdyi [o iliau anão, é uma espécie de planta com flor que é endémica da ilha de Kauai, no Havai. ​

As suas folhas verdes tufadas e brilhantes destacavam-se de outras plantas agarradas ao penhasco, aparecendo como algo saído de um livro do Dr. Seuss.

Membro da família do girassol conhecido pelo seu nome comum iliau anão, W. hobdyi foi outrora abundante na ilha havaiana de Kauai. Mas depois dos europeus terem introduzido as cabras na ilha no final dos anos 1700, a planta serviu de pasto quase até à sua extinção.

Isolado do resto das terras da ilha, W. hobdyi nunca tinha desenvolvido defesas contra o gado faminto, tais como folhas amargas ou espinhos afiados.

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Uma amostra de Wilkesia hobdyi recolhida com um drone e o braço robótico Mamba Ben Nyberg/National Tropical Botanical Garden /Reuters

Durante décadas, a procura de plantas tão difíceis de alcançar e a recolha de amostras foi levada a cabo por intrépidos botânicos que desceram por cordas por penhascos perigosos para caçar o que estava perdido.

Mas esta abordagem ousada significava que era fácil perder plantas. As cordas só podiam esticar-se até um certo limite, havia poucas zonas que pudessem servir de suporte em penhascos íngremes, e as linhas de visão eram frequentemente obstruídas por arbustos.

As novas tecnologias conseguiram fazer com que os cientistas possam agora chegar a lugares demasiado arriscados para os seres humanos e alcançar os últimos indivíduos sobreviventes antes que seja demasiado tarde.

Em 2016, Nyberg, que serve como coordenador do GIS e do programa de drones no Jardim Botânico Tropical Nacional, ajudou a lançar um programa aéreo para procurar espécies raras com drones.

No caso de W. hobdyi, pensava-se que havia menos de 600 indivíduos a crescer ao longo da Costa Na Pali. Muitas das plantas de Kauai ameaçadas de extinção brotam apenas dos penhascos mais íngremes, onde as cabras não conseguem chegar. Mas a folhagem espalhou-se agora antes de Nyberg, ascendendo a mais de 100 plantas. Fez o drone voar a 5 metros (16 pés) da vegetação, tirando fotografias de alta resolução para confirmar as suas descobertas no laboratório.

Nyberg e a equipa do Jardim Botânico Tropical Nacional (NTBG), trabalhando com a Divisão de Silvicultura e Vida Selvagem do Estado do Hawaii, redescobriram três espécies consideradas extintas ou localmente extintas de Kauai e descobriram populações maiores de muitas outras espécies criticamente ameaçadas de extinção com populações inferiores a 100 indivíduos.

O drone acabaria por revelar 5500 novos indivíduos em apenas alguns meses após anos de procura - um aumento de mais de 900% da população conhecida da planta.

No caso de tais descobertas, "foi muito excitante", disse Nyberg. "Mesmo uma ou duas plantas já seria um grande sucesso. Agora, podemos ter um pouco mais de tempo antes da extinção."

Cerca de 10% das plantas de Kauai já estão extintas

Actualmente, duas em cada cinco espécies de plantas a nível mundial estão ameaçadas de extinção. A situação é ainda mais terrível em ilhas que têm uma elevada taxa de endemismo - espécies que não crescem em mais nenhum lugar do mundo - e que estão isoladas de potenciais refúgios.

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National Tropical Botanical Garden/Handout via REUTERS

Kauai tem 250 espécies de plantas que só podem ser encontradas na ilha. Espécies invasivas como porcos selvagens, perda de habitat e deslizamentos de terras após fortes chuvas ameaçam muitas das plantas do Hawaii.

Cerca de 10% das plantas de Kauai já estão extintas ou extintas no estado selvagem, e outras 87% estão em perigo, de acordo com uma avaliação para 2020 da União Internacional para a Conservação da Natureza da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção.

"As coisas aqui são realmente especiais porque estamos muito longe de tudo", explica Nina Ronsted, directora de ciência e conservação da NTBG, que liderou a avaliação. "Cada planta desempenha um papel muito específico" no ambiente.

Espécies como Dubautia waialealae [uma espécie rara de planta com flor] que crescem nas florestas pantanosas da ilha são criticamente ameaçadas. A perda de uma única espécie pode desequilibrar todo um ecossistema.

"É um pouco como uma torre de cartas", diz Ronsted. "Se retirarmos demasiado, ela cai."

Uma carga preciosa

A localização de plantas raras na natureza é apenas metade da batalha. Para proteger as espécies a longo prazo, os botânicos precisam de recolher amostras - sementes e material genético - que podem cultivar em viveiros de estufa. Isto ajuda a fornecer uma apólice de seguro contra a extinção.

Em 2020, Nyberg e um grupo de investigadores canadianos da Outreach Robotics começaram a desenvolver um braço robótico especial que podiam prender a um drone para cortar cuidadosamente pedaços de plantas que cresciam em locais perigosos.

Conhecido como Mamba (Multi-Use Aerial Manipulator Bidirectionally Actuated), o braço robótico baloiça sobre um cabo abaixo de um drone e está equipado com oito hélices e um mecanismo de corte que pode ser controlado por pilotos a uma milha de distância (mais de 1,5 km).

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National Tropical Botanical Garden/REUTERS

Ao separar o Mamba do drone, pode mover-se rápida e precisamente em ambientes ventosos e evita o risco do aparelho bater nas paredes do penhasco.

Na sua extensão total, o Mamba pode alcançar a planta alvo a partir de 4 metros de distância.

O Mamba é operado remotamente por cientistas que podem manobrar o pulso metálico ágil do braço robótico e os cortadores dinâmicos. A braço está programado para colher cuidadosamente amostras desde a mais pequena e delicada das plantas. A recolha das amostras demora menos de 10 minutos.

Ajuda de bombas de fertilizante

O Mamba recolheu até agora 29 estacas ou sementes de 12 espécies ameaçadas. Estas incluem amostras de wahine noho kula, uma rara violeta que se pensa estar extinta em Kauai e só recentemente foi redescoberta pelo drone.

Sementes e estacas estão agora a crescer no viveiro NTBG, enquanto algumas outras sementes estão a ser armazenadas no banco de sementes para futuros esforços de conservação. O robô "pode ser a diferença entre a extinção e a sobrevivência", conclui Nyberg.

Mas as espécies ainda precisam de ser devolvidas à natureza para poderem voltar completamente ao seu habitat. Os cientistas esperam levá-las de volta ao seu terreno íngreme no próximo ano ou dois.

Podem até usar drones para bombardear as sementes recolhidas, envolvendo-as em bolas de fertilizante pegajosas que podem aderir a penhascos íngremes.

Mas podem até não ser preciso largar estas cargas preciosas em terrenos tão traiçoeiros. É possível "que estas plantas pudessem antes existir em terrenos planos, antes de termos aqui cabras", admite Nyberg.