Brasil-Croácia: os opostos encontram-se
O primeiro confronto dos quartos-de-final do Mundial de 2022 será uma batalha de estilos: a equipa que dança, incluindo o treinador, contra a equipa que joga a passo.
Não haverá jogo nestes quartos-de-final do Mundial 2022 entre selecções tão diferentes como o Brasil-Croácia desta sexta-feira (15h, TVI), que irá definir o primeiro dos semifinalistas do torneio. São diferenças a todos os níveis, no estatuto, nos planos tácticos e estratégicos, até nos caminhos que cada uma das equipas percorreu para chegar a esta fase. É, fundamentalmente, uma diferença de filosofia que tem funcionado bem para os dois lados: o Brasil tem um futebol onde toda a gente dança, treinador incluído; a Croácia tem um futebol onde ninguém corre mais do que o estritamente necessário, excepto a bola.
Brasil e Croácia são selecções que jogam com as suas armas e não pedem desculpa por isso. A selecção de Tite tem um fulgor ofensivo sem rival neste Mundial, em determinados momentos do jogo parece que só joga com avançados. É uma selecção que encontrou o seu ritmo na altura certa, uma alquimia perfeita entre as obrigações tácticas e as individualidades (que são muitas) que resulta num estilo bonito de se ver e igualmente eficaz.
Comparado com o seu adversário, o Brasil é uma equipa mais tecnicista, de maior contacto com a bola, que desequilibra mais no um para um. Um ataque que apresenta, ao mesmo tempo, Neymar, Vini Júnior, Richarlison e Raphinha (para não falar dos suplentes Gabriel Jesus e Martinelli, Antony ou Rodrygo), tem desbaratado, sem grandes problemas, as defesas que tem encontrado pela frente (menos a dos Camarões, mas esse jogo já não contava), e o exemplo mais recente foi a destruição da Coreia do Sul, de Paulo Bento. Não foi tanto pelos números (“apenas” 4-1), mas pela facilidade com que lá chegaram – 4-0 aos 36’. Deu para tudo, até para fazer entrar o terceiro guarda-redes e para vermos Tite dançar.
O favoritismo do Brasil é quase unânime por tudo isto, também pela história (única selecção a jogar em todos os Mundiais e a que mais vezes ganhou, cinco), mas a “canarinha” não é imune ao fracasso – os seus momentos mais infames aconteceram nos Mundiais que organizou, em 1950 com o Maracanaço, frente ao Uruguai, e em 2014, os 7-1 com a Alemanha. Em ambos, também havia enorme optimismo (há sempre) a envolver a selecção brasileira.
Do outro lado, estará uma selecção que sabe exactamente o que é e que nunca se descaracteriza. Os croatas são, como lhes chamou o jornalista do Guardian Nick Ames, os “mestres do futebol a passo”, uma equipa que se sente confortável a jogar em câmara lenta. Não são uma equipa que aposte na velocidade, nos duelos individuais ou na “força da técnica”, como diria Gabriel Alves. São uma equipa de resistência passiva que consegue sempre encontrar uma resposta.
Claro que tudo continua a passar pelos pés de Luka Modric, a quem o tempo só abrandou as pernas, não a velocidade de pensamento. Aos 37 anos, há poucos médios tão bons como ele, mas Modric não está sozinho. Tem os seus velhos companheiros de jornada Kovacic, Brozovic e Perisic, mais uma “estrela” defensiva em Josko Gvardiol e um guarda-redes em estado de graça, Dominic Livakovic.
Veja-se como chegaram à final do Mundial em 2018. Nos jogos a eliminar, abateram Dinamarca, Rússia (ambos nos penáltis) e Inglaterra (no prolongamento). Nesses três jogos a equipa orientada (na altura e agora) por Zlatko Dalic esteve sempre a perder, tal como aconteceu nos “oitavos” deste Mundial. Esteve a perder com o dinâmico Japão, conseguiu empatar, levou o jogo para os penáltis e ganhou. Será que consegue fazê-lo mais uma vez?