Um “oooi” luso-marroquino
A organização do Mundial faz questão de que os jornalistas sejam tratados que nem príncipes, como já contei aqui. Um dos preceitos é que temos, com uma frequência horária impressionante, autocarros para nos deixarem em casa.
Ao apanhar esse media bus para casa, a partir do centro de imprensa, tenho viajado muitas vezes com uma só pessoa. É um fotógrafo marroquino de parcas palavras, mas com piada. Deve rondar os 60 e tal anos, talvez mais, e nunca chegámos a falar. Cumprimentamo-nos com um sorriso e é só.
Ele vai sempre no primeiro banco, a editar as fotografias que tirou – confesso que, à falta de melhor plano, passo a viagem num momento de bisbilhotice a ver as imagens que captou nesse dia. E é divertido.
Um dia, fechei os olhos no percurso. Os maldosos dirão que adormeci, mas é falso. Como qualquer avô que é apanhado pelos netos a “cochilar” no sofá, garanto que estava apenas a descansar os olhos.
O simpático marroquino, perspicaz, já sabia qual era a minha paragem e avisou-me. Ri, agradeci e fui à minha vida.
Desde aí que o fotógrafo faz questão, em todas as viagens, de dizer um divertido “oooi” quando chegamos à minha paragem, mesmo quando ele vê que estou acordado e preparado para sair. Não diz mais nada, fica-se por essa onomatopeia em forma de aliança luso-marroquina.
No sábado, se o apanhar no autocarro após o Portugal-Marrocos, acho que teremos, pela primeira vez, uma verdadeira conversa. E, se Portugal ganhar, prometo resistir à tentação de o cumprimentar com um “oooooooooooi”.