Cientistas querem estudar as espécies do mar profundo... antes que se extingam!
Apelo feito por grupo internacional de investigadores na Conferência da Biodiversidade. Cerca de 90% das espécies dos fundos marinhos são desconhecidas para nós.
É preciso fazer mais investigação para conhecer o mar profundo, para além dos 200 metros de profundidade e até 11 mil, porque se estima que ali existam mais de dois milhões de espécies, que nos dão serviços essenciais como fixar o carbono nos sedimentos marinhos, e nós não conhecemos nem uma ínfima parte. Este foi o apelo lançado por um grupo internacional de cientistas marinhos aos decisores políticos de todos os países reunidos na 15ª Conferência da Convenção Quadro da Diversidade Biológica (COP15), em Montreal.
“Quando colhemos uma amostra dos fundos marinhos, 90%, e friso 9-0, são espécies desconhecidas para nós. Desempenham funções vitais no ciclo do carbono, por exemplo, mas não têm nomes, não sabemos nada sobre elas”, disse Anna Metaxas, do Departamento de Oceanografia da Universidade de Dalhousie (Nova Escócia, Canadá), numa conferência de imprensa transmitida online.
O mar profundo tem 95% do volume da água dos oceanos da Terra e as alterações climáticas estão a ter um impacto sobre os ecossistemas que abriga. A actividade humana contribui igualmente para o seu equilíbrio ou destruição – a poluição do plástico está a chegar às grandes profundidades, confirmou Anna Metaxas. A mineração de águas profundas, para a qual há muitos países e empresas interessados em avançar, destruirá espécies que nunca chegámos a conhecer. “Temos de conhecer as espécies para as proteger”, apelou.
A protecção das espécies é especialmente difícil no mar alto, no oceano que fica para lá das Zonas Económicas Exclusivas de cada país. “Não há um quadro internacional para guiar a aplicação de medidas de conservação”, diz o documento, que é lançado pela Sociedade Senckenberg para a Investigação da Natureza (Alemanha) e tem a cientista da Universidade de Aveiro Ana Hilário entre os seus autores.
Muitas das espécies recentemente descobertas ocorrem em ambientes marinhos ricos em biodiversidade, como recifes de coral e nos fundos marinhos. Mas juntamente com a descoberta vem um cálculo de um elevado risco de extinção. Em 2019, o caracol Chrysomallon squamiferum foi considerado a primeira espécie do mar profundo conhecida que estava em risco de extinção, por causa da mineração de mar profundo, salienta o documento. Mas, para que se possam avaliar as espécies em risco, é preciso primeiro conhecê-las, dar-lhes um nome.
Nesta COP15 discute-se o objectivo de reservar 30% das zonas marinhas e terrestres, as mais importantes em termos de diversidade biológica, para criar áreas protegidas, até 2030. “Estamos preocupados com a possibilidade de esta conferência não sair um acordo ambicioso”, que cumpra esta meta, avançou Anna Metaxas. “Mas este objectivo não vale só por si. Se não houver maneiras de garantir que a meta dos 30% é cumprida, não resulta”, salientou.
Além disso, disse a cientista canadiana, se se conseguir mesmo um acordo para proteger 30% da terra e do mar, isso não é uma licença para fazer tudo o que se quiser nos outros 70%. “Todo o resto do oceano devia ser gerido de forma adequada." E isso começa por conhecer as espécies que vivem na maior parte dos oceanos, que ainda desconhecemos.