Linha de Cascais vai ser modernizada, mas sem resolver o nó de Alcântara

Investimento de 31,6 milhões de euros contempla uma nova electrificação da linha compatível com o resto da rede ferroviária e obras em cinco estações.

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Haverá uma reconfiguração das estações de Algés, Oeiras, Carcavelos, São Pedro e Cascais. jog joao gaspar

A IP – Infraestruturas de Portugal consignou no dia 6 de Dezembro a empreitada de modernização da linha de Cascais ao consórcio luso-espanhol formado pela Construções Técnicas Ferroviárias, S.A. e Comsa, S.A., pelo valor de 31,6 milhões. A obra tem um prazo de execução de dois anos.

O mais relevante deste investimento é a possibilidade de esta linha ficar integrada na rede ferroviária nacional, deixando de ser a única onde o sistema de electrificação é de 1,5 kV em corrente contínua para passar a ser de 25 kV em corrente alternada, tal como no resto do país. Isso permite dar flexibilidade à gestão da frota (composta por 29 automotoras) até agora limitada a esta “ilha ferroviária”, pois quaisquer comboios eléctricos poderão no futuro circular neste eixo entre o Cais do Sodré e Cascais.

A exploração ferroviária vai beneficiar também da construção de oito “diagonais” ao longo da linha. Trata-se de cruzamentos que permitem desviar os comboios da linha ascendente para a descendente (e vice-versa) criando mais redundâncias para a circulação, particularmente úteis quando há avarias ou interrupções de via.

Mais visível para os passageiros será a beneficiação de estações e apeadeiros. No caso de Algés, Oeiras, Carcavelos, São Pedro e Cascais haverá mesmo uma reconfiguração dos seus layouts, que se traduzirá num aumento da capacidade para receber comboios e permitir uma maior fluidez do tráfego.

No parque de material circulante de Carcavelos (onde uma parte da frota costuma estacionar), a IP vai corrigir um erro antigo, repondo a ligação nascente naquela infra-estrutura depois de esta ter sido retirada há alguns anos. Serão apenas algumas centenas de metros de via férrea nova, mas que terão um impacto importante na exploração ao evitar manobras dos comboios.

E aqui se esgotam os 31,6 milhões de euros desta consignação. A via férrea propriamente dita (carris, travessas e balastro) já não precisa de ser mudada porque foi alvo de uma renovação integral. Mas ficam a faltar obras, que ainda estão para ser lançadas. É o caso da supressão da única passagem de nível rodoviária da linha de Cascais (em S. João do Estoril) e o desnivelamento de várias passagens para peões. Também está previsto lançar um concurso para um novo sistema de informação ao público e videovigilância.

Em curso está a construção em Sete Rios de uma subestação que deverá alimentar com energia eléctrica toda a linha entre Cais do Sodré e Cascais. A energia eléctrica será transportada por um feeder (cabo de alimentação) que será enterrado ao longo do canal ferroviário de Sete Rios a Alcântara.

Esta linha será também das primeiras do país a possuir um sistema de sinalização de controlo de velocidade ETCS (European Train Control System), um projecto que já está em curso.

Neste investimento apresentado pela IP não há quaisquer referências à ligação da linha de Cascais à linha de Cintura, um projecto que consta do PNI 2030, orçado em 200 milhões de euros e com prazo de execução entre 2023 e 2027.

A ficha deste projecto no PNI 2030 prevê “um desnivelamento em Alcântara e a criação de uma nova estação subterrânea de Alcântara Terra (e desactivação da existente), com possibilidade de articulação com a futura estação do Metro de Lisboa”.

Por parte da CP, está em fase concursal a compra de 117 novos comboios, dos quais 34 se destinam à linha de Cascais. A decisão sobre qual o fabricante que vai ganhar o concurso deverá ser tomada até Março, sendo as primeiras unidades entregues 40 meses depois, ou seja, em finais de 2026. Até lá, mesmo com a infra-estrutura modernizada, os passageiros desta linha continuarão a utilizar os velhos comboios de sempre.

A vetustez do material circulante foi precisamente apontada pelo ministro Pedro Nuno Santos, que no dia 6 de Dezembro viajou entre o Cais do Sodré e Cascais, ao afirmar que “é incompreensível e injustificável” que a Linha de Cascais seja "do século passado" e que tenha comboios com 70 anos.

Em rigor, o governante poderia falar de comboios com 96 anos pois algumas das composições que estrearam a electrificação da linha em 1926 (Cascais foi a primeira linha férrea electrificada em Portugal, 31 anos antes da de Sinta) ainda andam nos carris. Mas é só uma meia verdade porque apenas parte do “chassis” dessas automotoras é a mesma – a caixa, os motores, bogies (rodados), equipamentos eléctricos e interiores já foram todos alterados.

O ministro citou números divulgados pelo presidente da CP, Pedro Moreira, para sublinhar que os comboios da linha de Cascais transportam diariamente o equivalente a 1700 autocarros e 55 mil automóveis, destacando os benefícios económicos e ambientais desta infra-estrutura.

As obras da linha de Cascais estão previstas no Ferrovia 2020, devendo ter sido concluídas nesse ano. Mas há dois anos, fonte oficial da IP assegurava ao PÚBLICO que este investimento diria decorrer entre 2022 e 2023. Foi agora consignado. Com Lusa

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