Reservas da Biosfera: faróis rumo à resiliência e preservação da biodiversidade

Ao contrário de uma molécula de dióxido de carbono que é igual esteja onde estiver, cada espécie é única e irrepetível, uma perda irreparável e não compensável.

Os impactos associados às alterações climáticas e à perda de biodiversidade evidenciam a necessidade de um modelo de desenvolvimento diferente do que se tem vindo a seguir nas últimas décadas. As crescentes vulnerabilidades da comunidade global, face à finitude e deterioração das condições naturais e da capacidade de regeneração do planeta, impõem uma urgência que parece não ter ainda merecido reconhecimento adequado.

No que se refere à componente da biodiversidade e ecossistemas, em particular, ignora-se olimpicamente o facto de cada espécie que se extingue ser um evento único e irrepetível, uma construção genética e funcional única que, desaparecendo, não é passível de substituição. Ao contrário de uma molécula de dióxido de carbono que é igual esteja onde estiver, cada espécie é única e irrepetível, uma perda irreparável e não compensável.

Conservar a natureza e a biodiversidade não pode continuar a ser visto como um luxo, capricho ou “apenas” um imperativo ético ou moral. A natureza é fundamental para o desenvolvimento - seja este entendido na perspectiva mais difusa da sustentabilidade, seja na versão mais simplista do crescimento económico. A biodiversidade é um pilar do desenvolvimento e do crescimento económico, e o investimento na sua conservação e utilização sustentável é fundamental para a qualidade de vida, segurança e bem-estar da espécie humana.

Há mais de cinquenta anos que as Reservas da Biosfera da UNESCO têm vindo a apelar à necessidade de integrar a conservação da natureza e biodiversidade nos modelos de desenvolvimento à escala local, associando também a identidade paisagística, cultural, patrimonial e histórica destes territórios, o conhecimento científico, a educação e, não menos importante, a participação.

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Reserva Natural do Paul do Boquilobo que integra Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO Daniel Rocha

Actualmente, integram na rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO, 738 territórios em 134 países, incluindo 22 Reservas da Biosfera transfronteiriças. Trata-se da maior rede mundial de espaços classificados que, a nível nacional, incluem áreas protegidas e áreas de desenvolvimento socioeconómico. Mais de 270 milhões de pessoas vivem em Reservas da Biosfera da UNESCO. A importância e visibilidade crescente destes sítios mereceram o reconhecimento, em 2021, com a dedicação do dia 3 de Novembro como o dia Internacional das Reservas da Biosfera da UNESCO, cuja primeira comemoração ocorreu este ano.

Estes locais estão sob jurisdição nacional, mas cooperam entre si na partilha de ideias, experiências, projectos e acções, a nível regional, nacional e internacional. As Reservas da Biosfera, de acordo com o quadro estatutário do Programa O Homem e a Biosfera, obrigam-se a promover a conservação da natureza e do património histórico e cultural, o conhecimento e o desenvolvimento socioeconómico. O diálogo e concertação em torno destas funções são imperativos e transformam estes territórios em laboratórios vivos de debate e experimentação de abordagens inovadoras, à escala local, do desenvolvimento sustentável. Os sucessos e fracassos são partilhados entre Reservas da Biosfera, no seio das redes geográficas e temáticas como são os casos das Rede Iberoamericana e Europeia de Reservas da Biosfera que permitem a transferência de conhecimento entre realidades distintas e distantes.

Em Portugal, 12 Reservas da Biosfera da UNESCO dão expressão a este compromisso que se estende a outas 12 reservas espalhadas por diferentes países da CPLP e que, recentemente, se reuniram em torno da nova rede de Reservas da Biosfera da CPLP e que, juntamente com a CPLP, entidades governativas locais e nacionais, universidades e organizações da sociedade civil, se comprometem a continuar a procurar soluções, caminhos alternativos, capazes de ajudar a reconciliação entre a espécie humana e o planeta e, com isso, olhar o futuro com esperança e responsabilidade.

Enquanto territórios guardiões de uma importante biodiversidade e onde vivem pessoas conscientes e comprometidas com a sustentabilidade, as Reservas da Biosfera da UNESCO assumem-se como faróis de uma navegação colectiva rumo a um mundo mais digno das gerações vindouras e da própria história maravilhosa da espécie humana.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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